ONU muda o tom e agora defende o documento

O Globo – 22/06/2012

Secretário-geral Ban Ki-Moon diz que texto é “um grande sucesso para a comunidade internacional”, mas ouvirá avaliação bem diferente de representantes da sociedade civil

A canadense Severn Suzuki, que aos 12 anos se tornou um dos símbolos da Rio 92 ao fazer um discurso aos chefes de Estado, voltou ao Brasil 20 anos depois, e, ontem, engrossava a lista de assinatura contra o documento da Rio+20:

– Essa conferência deixou evidente a pane da governança global.

Trechos da carta-repúdio mostram que a “Rio+20 passará para a História como uma conferência da ONU que ofereceu à sociedade mundial um texto marcado por graves omissões” e, mais adiante, que “não se encontra nos 283 parágrafos do documento oficial o que deverá ser o legado desta conferência”.

O ministro da Defesa e ex-titular das Relações Exteriores, Celso Amorim – responsável pela segurança da conferência – respondeu às críticas, mesmo ressaltando não estar acompanhando com lupa as negociações:

– É importante ter um resultado. Eu estive em Copenhague, quando todos disseram que não haveria acordo. Agora, ele reflete o estado de espírito dos países. Avançamos.

Até chefes de Estado, como o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, disseram entender o sentimento de descontentamento. Ele afirmou que, pessoalmente, gostaria de ver avanços, mas admitiu que “os organismos multilaterais são locais difíceis para se obter consenso”.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, que na véspera criticara a falta de ambição do acordo, ontem mudou de tom.

– Esse documento contém pacotes muito amplos e ambiciosos para o desenvolvimento sustentável, que respondem aos três pilares de nossos objetivos: igualdade social, desenvolvimento econômico e sustentabilidade. Há muitas recomendações claras. O importante agora é a implementação de todas essas recomendações – declarou o secretário.

Ele destacou que, além da decisão de criar metas conjuntas de ação, os países-membros da ONU precisam acelerar a implementação das metas de desenvolvimento do milênio até 2015. E prometeu que criaria um painel de alto nível para debater em um fórum intergovernamental de especialistas.

Questionado sobre o descontentamento da sociedade civil com o resultado da Rio+20 e as manifestações dentro do Riocentro, Ban foi categórico:

– Acredito que (o texto) foi um grande sucesso para a comunidade internacional. É um grande sucesso, um excelente documento que pode nos colocar todos na sustentabilidade viável. Uns podem ter visões diferentes, mas, para as Nações Unidas, estamos muito agradecidos pela liderança da presidente Dilma Rousseff e sua equipe, que levou essas negociações a tamanho sucesso. Temos que ser muito gratos. O Brasil tem um potencial enorme de liderar essa campanha.

Encontro com integrantes da Cúpula dos Povos

Hoje, 36 integrantes da Cúpula dos Povos, evento da sociedade civil que acontece paralelamente à Rio+20 no Aterro do Flamengo, vão se encontrar com Ban no Riocentro para entregar o documento político final elaborado durante as plenárias organizadas desde o último domingo. Além de uma crítica formal ao documento da Rio+20, o texto proporá também alternativas ao modelo econômico atual.

– Queremos deixar clara nossa oposição ao resultado desta Rio+20, que representa uma aliança de governos e de corporações. A sociedade civil teve espaço, pequeno, mas as propostas não foram incorporadas. Nós negamos a economia verde – afirmou Iara Pietrovsky, líder da delegação que se encontrará com o secretário-geral da ONU. (Liana Melo, Henrique Gomes Batista, Renata Malkes e Camila Nóbrega)