Mortalidade materna: ainda uma preocupação
Diário de Pernambuco – 18 de setembro de 2012
A morte de uma gestante talvez seja uma das experiências mais tristes da vida humana, pois ocorre em momento singular, que é o nascer de uma nova vida. Do ponto de vista de saúde pública, essa ocorrência representa uma falha inadmissível do sistema de atenção, sendo por essa razão considerada uma grave violação dos direitos das mulheres. Conceitualmente, a morte materna é todo óbito de mulheres durante a gestação ou em até 42 dias após o parto. Segundo a Organização Mundial da Saúde, mais de 500 mil mulheres morrem, anualmente, em todo o mundo, em decorrência de problemas relacionados à reprodução. No Brasil, os dados do Ministério da Saúde revelam que em 2011 morreram 68 mulheres para cada 100 mil nascimentos. Nos países desenvolvidos a morte materna varia de 4 a 20 óbitos por 100 mil nascimentos.
Como vemos, temos, ainda, muito o que fazer! Os estudos registram que a maioria dos casos de óbitos maternos está relacionada à hipertensão, infecções e hemorragias. Tais causas, mais do que reflexo de fatores individuais ou biológicos relacionados a cada gestante, são decorrentes da falta de assistência de qualidade durante o pré-natal, no parto e no puerpério. Objetivamente, esse processo começa com a falta de acesso das mulheres ao atendimento médico nos primeiros meses da gestação, o que contribui para o adiamento do diagnóstico de possíveis complicações, e se estende às poucas consultas pré-natais, e a não realização de exames laboratoriais. Por seu turno, a inexistência de uma maternidade próxima e, muitas vezes, de vagas, levam as gestantes a uma peregrinação perigosa, pois nesse momento podem surgir complicações que exigem assistência médica imediata e oportuna, como as hemorragias, levando as mulheres a óbito. A mortalidade materna é, também, uma marca das desigualdades sociais e de renda. Infelizmente, muitas e muitas das gestantes são pobres, solteiras, e em número significativos adolescentes, pouco esclarecidas sobre os seus direitos, pouco acolhidas nos postos de saúde.
As mulheres têm se mobilizado por melhores condições de assistência à sua gestação e para aprofundar a consciência da sociedade sobre os seus direitos, mas essa luta ainda não obteve os resultados necessários e desejados. Melhorar os indicadores de saúde da mulher exige a implementação de bons programas preventivos, profissionais capacitados e engajados para um atendimento humanizado, informação e conscientização de um número sempre maior de mulheres sobre seus direitos a uma assistência de boa qualidade. Não menos importante, é fundamental que os governos cumpram com a sua obrigação de respeitar e garantir os direitos reprodutivos das mulheres. Afinal, o que a sociedade espera e, especialmente, as mulheres, é que o direito à maternidade se traduza num momento especial e de alegria para elas e sua família e não motivo de preocupação ou risco à saúde.