Entrevista: A Europa quer alimentos baratos. Entretanto, isso tem consequências devastadoras no Brasil

Entrevista: A Europa quer alimentos baratos. Entretanto, isso tem consequências devastadoras, por exemplo, no Brasil.  O professor Antonio Andrioli, integrante do núcleo Chapecó do Cebes, está confrontado diariamente com isso. Veja abaixo entrevista concedida ao site alemão schrotundkorn.com

 

Andrioli, à sua frente está um copo de leite. O que esse leite produzido na Alemanha tem a ver com o Brasil?

 

Ele é produzido à base de soja do Brasil. Para abastecer a demanda de proteína na produção de animais da Alemanha é necessária uma área de aproximadamente 2,3 milhões de hectares na América Latina, o que corresponde ao tamanho do Estado de Mecklenburg-Vorpommern.

 

Por que esse componente da ração animal vem do Brasil e onde está o problema?

 

Muitas vezes a soja vem do Brasil porque lá ela é mais barata. Com isso, aqui na Alemanha são produzidos excedentes. E o que a Alemanha faz com o excedente de leite? A União Européia compra esse excedente e o envia na forma de leite em pó para a África, por exemplo, o que lá irá destruir a produção local. Para poder elevar o nível de gordura desse leite nele é misturado óleo de palma da Indonésia. Com isso, não quero afirmar que a soja ou o óleo de palma sejam produtos ruins. Ao contrário, a forma como a Europa lida com esses produtos destrói a nossa agricultura local, contamina a natureza e nossas águas no Brasil e, através das longas vias de transporte, prejudica o meio ambiente.

 

Em outras palavras, o consumidor alemão também é responsável pelos problemas ambientais no Brasil?

 

Não somente os consumidores, mas também a política. Todos os anos a União Européia importa em torno de 35 milhoes de toneladas de soja. Isso ocorre porque a política agrária da União Européia é baseada em alimentos baratos. A União Européia pratica essa política embora, na realidade, ela seja cara, se considerarmos, por exemplo, os efeitos à saúde ocasionados pelo uso de agrotóxicos. E o Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos.

 

No verão de 2016 a presidenta Dilma Rousseff foi tirada do cargo por um golpe parlamentar. Desde então, governa o conservador liberal Michel Temer. O que mudou de lá para cá?

 

O modelo de desenvolvimento que dura mais de 500 anos se aprofundou: o Brasil continua exportando seus recursos naturais, os pequenos agricultores seguem sendo expulsos das suas terras, o governo é conduzido pelas corporações e muitos políticos são corruptos. O agronegócio não domina somente o parlamento, mas também está no governo. O Ministro da Agricultura é o “Rei da soja” Blairo Maggi, o maior produtor de soja do mundo. Ele foi responsável por 40% do desmatamento do Estado do Mato Grosso para cultivar soja.

 

Veja aqui a notícia completa.