Memória e legado do sanitarista do Brasil
Neste momento em que celebramos os 80 anos do médico sanitarista SÉRGIO AROUCA (1941-2003), nós do CEBES prestamos esta homenagem a quem foi um dos principais articuladores do SUS e cuja gestão frente à Fundação Oswaldo Cruz mudou os rumos do debate sobre a saúde pública no Brasil.
E celebramos lembrando trechos do seu discurso, ainda muito atual, durante a 8ª Conferência Nacional de Saúde, por ele presidida, em 1986, quando foram lançadas as diretrizes para a construção de um sistema descentralizado e único de saúde.
“Democracia é saúde!! (…) é um bem-estar social que pode significar que as pessoas tenham mais alguma coisa do que simplesmente não estar doentes: que tenham direito à casa, ao trabalho, ao salário condigno, à água, à vestimenta, à educação, às informações sobre como dominar o mundo e transformá-lo. Que tenham direito ao meio ambiente, que não nos seja agressivo, mas pelo contrário, que permita a existência de uma vida digna e decente. Que tenha direito a um sistema político que respeite a livre opinião, a livre possibilidade de organização, a livre possibilidade de autodeterminação de um povo, e que não esteja todo tempo submetido ao medo da violência, daquela violência resultante da miséria, que resulta no roubo, no ataque. Que não esteja também submetida ao medo da violência de um governo contra o seu próprio povo, para que sejam mantidos interesses que não são do povo“.
#AroucaVive
Veja a seguir depoimentos homenageando o médico sanitarista:
Lúcia Souto, presidenta do Cebes
Nísia Trindade Lima, Presidente da Fiocruz
Quem visita a Fiocruz, em sua sede, no campus de Manguinhos, Rio de Janeiro, logo encontra uma estátua em tamanho natural que parece saudar de forma amigável e natural cada visitante. O gestual era característico de Sergio Arouca, médico sanitarista, grande pensador da saúde e liderança do movimento da reforma sanitária.
Pude entrar em contato com todas essas dimensões da trajetória intelectual e política de Arouca, mas, em minha experiência, o mais marcante foi o contato com o Arouca Presidente da Fiocruz, responsável pela entrada de muitos jovens sonhadores na instituição, tal como eu era em 1987. Criatividade, capacidade de integrar equipes e emular a todos em um momento crucial da redemocratização do país, com a Assembleia Constituinte e a promulgação da Constituição de 1988, constituem marcas de sua atuação. E foi nessa instituição que me tornei pesquisadora em história da saúde e saúde coletiva e completei minha formação como cidadã. E hoje é ainda sob a inspiração daqueles tempos iniciais, em que ecoavam as palavras de Arouca na 8a Conferência Nacional de Saúde – Saúde é Democracia, que procuro desempenhar meu papel.
Arouca criou as bases da gestão participativa, com o Congresso Interno, o Conselho Deliberativo e a orientação para o trabalho integrado, interdisciplinar e renovador da agenda da saúde. Sempre lembrarei de seu modo único de se dirigir a todos e, diante de polêmicas e diferenças de opinião menores, conclamar: “vamos votar no espírito da proposta.” Tratava-se de muito mais que apelar para um sentimento de confiança no líder carismático que era. Suas palavras nos levavam a pensar naquilo de essencial a ser observado nos processos políticos. Que a sabedoria e o ”espírito das boas propostas”, necessárias à equidade e à democracia em nosso país, nestes tempos tão duros, nos inspirem. Arouca sempre presente!
Fernando Pigatto, presidente do Conselho Nacional de Saúde
José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde
“Quando assumi o ministério da saúde, ao enfrentar situações difíceis, em vários momentos me perguntei: o que Arouca faria se estivesse no
meu lugar?Era uma maneira de me sentir próximo de sua lembrança e legado, mas também uma tentativa de pensar diferente as possíveis soluções para uma situação crítica ou complexa. E isso aprendi com ele.
Trago comigo suas memórias como liderança de um movimento político, as lembranças do amigo que admirava e respeitava,as do professor brilhante e motivador, a do parlamentar profundamente comprometido com a democracia e o futuro da nação e a do debatedor atento e perspicaz que no meio de uma discussão acalorada, que caminhava para nenhum resultado concreto, tirava dos comentários e intervenções de cada um, uma linha de raciocínio que abria novas perspectivas, superava dialeticamente os conflitos e paradoxos que ali haviam se explicitado e unia a todos na construção coletiva da solução.
O que permanece da obra de Arouca é a base, os pilares sobre os quais se construiu o SUS, uma construção coletiva que junto de outros gigantes como Sebastião Loureiro (falecido este mês), Hesio Cordeiro e tantos outros abriu novos caminhos e possibilidades para a saúde brasileira. É sobre a estrutura deixada por eles que caminhamos neste complexos tempos. E Arouca foi um artesão dedicado e cuidadoso em todo esse processo.
Que falta nos faz Sérgio Arouca neste momento tão difícil da vida do pais!”
João Pedro Stedile
Jairnilson Paim
Quando Arouca faleceu em 2003 declarei que ele inundou de dignidade a saúde pública brasileira e que num futuro seriam reconhecidos dois períodos na história da saúde no Brasil: antes e depois de Sérgio Arouca. No capítulo que escrevi sobre o seu livro “O Dilema Preventivista” (Ed. Fiocruz, 2003) procurei explicar como a sua proposta de prática teórica contribuiu para a construção da Saúde Coletiva, assim como a proposição de uma prática política resultou no projeto da Reforma Sanitária Brasileira. E em 2008 fiz uma singela homenagem ao amigo, intelectual e militante Antônio Sérgio da Silva Arouca como justo reconhecimento por duas grandes obras que legou à sociedade brasileira: sua tese de doutorado e a reforma democrática da saúde no Brasil.
Em 20 de agosto de 2021 Sérgio faria 80 anos, oportunidade de reiterar essas homenagens mas, sobretudo, lembrar que a “totalidade de mudanças” concebida por ele precisa ser revisitada nesses tempos sombrios para continuarmos na luta por um outro patamar de projeto civilizatório.
Mychelle Alves, presidenta da Asfoc SN
Carlos Morel ex presidente da FIOCRUZ
Meu caro Arouca,
Escrevo-lhe esta mensagem assim, pessoalmente, pois me parece mais natural do que um texto tradicional registrando a passagem dos 20 anos desde que você decidiu ir agitar em outras plagas.
Meu caro, se você já fazia uma imensa falta no início do novo milênio, imagine agora, quando o seu, o meu, o nosso país enfrenta uma tempestade perfeita – sanitária, econômica, social e quantos mais adjetivos você quiser adicionar. Você, autor intelectual e operacional do SUS, deve estar horrorizado com os crimes que as lideranças (eu disse “lideranças”?) políticas e sanitárias andam aprontando por aqui. Como fazem falta seu carisma, sua liderança, sua capacidade de comunicação e comando quando punha a mão num microfone…!
Nosso consolo é que suas ideias estão mais vivas, mais fortes e mais atuais que nunca. E que sua obra maior – o SUS – foi a barreira que evitou um total colapso sanitário, resistindo bravamente aos negacionistas, anti-ciências, anti-vacinas e aos abutres de sempre. Tempos estranhos, meu irmão…!
Paulo Garrido, vice-presidente da ASFOC-SN
José Noronha, dirigente do Cebes
Nos tempos que passamos, ao passar o dia em que você faria 80 anos, sentimos saudade gigante de sua presença. Temos fundo em nossa memória, gravadas na história de nossas conquistas sociais e de nosso sistema de saúde, sua voz, seu vigor, seu compromisso, sua tenacidade, sua inteligência, sua capacidade de romper paradigmas e mobilizar as gentes. Saudade que aumenta porque precisamos de inspiração e presença. Se a primeira a lembrança aquece, a segunda, a ausência, o vazio aumenta. Voltamos à resistência, à contenção da destruição, a conclamar à luta as multidões, a reabrir o caminho para a refundação de nosso Brasil. Brasil que você amava em cada canto, em cada olhar, em cada brado. Brasil para o qual você proclamava que a luta pela Saúde é indissociável da luta pela Democracia e pela Justiça, Brasil onde a luta pela edificação de um sistema de saúde universal e equânime integrava o que você chamava de processo civilizatório. Tenho certeza que ao celebrar aqueles outros tempos em que convivemos, preenchemos o vazio e lhe fazemos presente. Sergio Arouca vive!
Túlio Franco, coordenador da Rede Unida
Ana Costa, dirigente do Cebes
Arouca foi uma espécie de farol de nossa geração de sanitaristas revolucionários condutores da Reforma Sanitária do Brasil. Sua tese seminal escancarou janelas de novos olhares sobre a saúde, exibindo a sua complexidade intimamente relacionada às formas de organização da sociedade, da democracia e da justiça social.
Mas longe de ser apenas um acadêmico, ele enveredou por caminhos ousados e ajudou a conduzir mudanças por onde passou, seja na Presidência da Fiocruz ou na Secretaria de Saúde do RJ…
Foi vislumbrando as reviravoltas por um mundo mais justo e democrático que valorizou o papel do Cebes como entidade e movimento estratégicos na disseminação de pensamento critico e formação de novos atores para a luta.
Tive a sorte de reencontrar Arouca já no fim de sua jornada pelo Planeta…ali no inicio do governo Lula, ele me convidou para trabalhar na Secretaria de Gestão Participativa do Ministério da Saúde. Os rumos e contradições para a consolidação do SUS já estavam evidentes e Arouca pensou essa secretaria como um espaço de pensamento estratégico e ação política para identificar e atuar sobre os nós críticos, as pedras do caminho.
Partiu muito prematuramente deixando a lacuna de uma inteligência corajosa e ousada tão necessária ontem, hoje e em todos os tempos. Afinal, é dele mesmo a prescrição saudável de doses diárias de loucura para dar conta de vencer a brutalidade cotidiana do realismo capitalista. Por isso tudo, tão importante e estimulante reverenciar Arouca!
Rosana Onocko, presidente da Abrasco
Alisson Lisboa, Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares.
“Sérgio Arouca foi uma grande liderança política nacional e do movimento da reforma sanitária brasileira. Médico popular, militante e socialista, destacou-se intelectualmente com a sua tese sobre “o Dilema Preventivista” ao identificar as determinações estruturais da prática médica e assim lançar as bases para uma teoria da Reforma Sanitária. Seja na Fiocruz, no parlamento ou na gestão, pautou a democratização da sociedade brasileira e a transformação das práticas de saúde, tornando indissolúvel a mudança do modelo assistencial com a conquista da universalização do direito à saúde.”
Sônia Fleury, ex-presidenta do CEBES
José da Rocha Carvalheiro, Prof. Titular (aposentado) do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP)
Numa existência rica em momentos significativos, imagino o que poderia ter sido “o supremo”. À semelhança do que fez Ulisses Guimarães, Arouca deveria ter brandido o Relatório da VIII Conferência Nacional de Saúde e bradado sua frase mais constante e contundente: “O SUS não é um simples plano de saúde, é um processo civilizatório”.
Podemos afirmar que a crise da pandemia de COVID-19 foi vital para explicitar a natureza de processo social civilizatório do SUS, como dizia Arouca. Nunca antes foi tão evidente que precisamos ser solidários na crise de uma catástrofe natural.
Acompanhei a carreira de Arouca em momentos gloriosos: Presidente da Fiocruz e da “Oitava”, Secretário de Saúde do Rio de Janeiro, candidato a vice Presidente da Republica, entre outros. Prefiro lembrar o jovem militante do movimento estudantil na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, onde foi meu aluno. Contratado como professor de Parasitologia, tive a atenção despertada por um aluno especial, era o Arouca. Já o havia notado nas aulas, sempre acompanhado de sua namorada Ana Tambelini. Fiquei surpreso ao encontrá-lo na União Geral dos Trabalhadores (UGT), o Memorial da Resistência de Ribeirão Preto. Ele era, já então, o militante político que foi até o fim.
Gastão Wagner, professor titular do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp
Everardo Duarte Nunes, Professor Colaborador do Departamento de Saúde Coletiva FCM/Unicamp
Hoje, 20 de agosto de 2021, Antonio Sérgio da Silva Arouca completaria 80 anos. Precocemente, falecido aos 61 anos, em 2 de agosto de 2003, medico sanitarista, parlamentar, perpassou uma ativa carreira política e de gestão institucional.
Homenageá-lo nesta data significa recuperar a sua marca – a singularidade de sua trajetória e, assim, com a sua intensa atividade “salvar o passado para servir o presente e o futuro”, como bem expressa Jacques Le Goff.
Trabalhar os “dilemas” sempre foi a sua perspectiva, especialmente na tese de doutorado que se tornou referência obrigatória nas Ciências Sociais e Saúde Coletiva.
Paulo Amarante, pesquisador da Fiocruz, Presidente de Honra da Abrasme ex-presidente do Cebes
Dirceu Greco, professor emérito da Faculdade de Medicina UFMG e presidente da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB – 2019-2021)
Sérgio Arouca – 80 anos de seu nascimento
Sergio Arouca completaria 80 anos em agosto de 2021 mas infelizmente nos deixou há 18 anos – muita falta nos faz por todo seu incansável trabalho em prol da saúde pública no Brasil. Tomo a liberdade de relembrar algumas de suas múltiplas atividades. Estas incluíram a academia, como Professor da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, que depois recebeu seu nome como justa homenagem; a administração, como Presidente da Fiocruz; a política, na Comissão Nacional da Reforma Sanitária, constituída por recomendação da 8ª Conferência Nacional de Saúde, comissão esta que elaborou o texto que serviria de base para a parte importante da Constituição de 1988 e para a fundação do SUS. E sua luta contra a ditadura militar, tendo inclusive sido deputado federal por 8 anos. Sua morte precoce nos fez perder um lutador exemplar, mas que nos deixou importante legado, que deve ser lembrado e relembrado, mais ainda neste período atual de trevas, de negacionismo e de irresponsabilidade do governo federal no enfrentamento da COVID19.
Para mim, que acompanhei e participei destes acontecimentos, desde a reforma sanitária até o descalabro atual, avalio que este trio, formado por Arouca, Betinho e Paulo Freire, que faria 100 anos em setembro de 2021, são exemplos para todos nós de como é possível e necessário participar e enfrentar as disparidades, os preconceitos, a violência e a discriminação neste país, e reforçar o imprescindível papel do SUS.
Sérgio Arouca presente!!
Paulo Buss, ex-presidente da Fiocruz
Sarah Escorel,sanitarista e ex-presidente do Cebes
Oi, Sergio,
Você nem acredita no pandemônio pandêmico da vida aqui na terrinha. A destruição das instituições, a realidade alternativa, a perda de sentido das palavras começou antes da pandemia, mas esta ajudou a pôr em prática um projeto de extermínio tão a gosto do presidente, seus familiares e colaboradores.
O número de mortos ultrapassou os 570 mil e a magnitude diminuiu a sensibilidade social: pelo visto nos acostumamos com o aumento de 10 mil óbitos a cada 15 dias.
Nos seus 80 anos, como você agiria diante dessa tragédia?
Dá um certo desespero assistir ao retrocesso, até à destruição do coletivamente batalhado e construído, durante e após a ditadura. Um projeto tão generoso!
Você pode se orgulhar do SUS que ajudou a construir. A Reforma Sanitária ficou incompleta e o ministério da saúde foi ocupado por corruptos, deslocando os quadros técnicos e destruindo programas. Mas o SUS está de pé. Graças aos profissionais de saúde e a alguns governos estaduais e municipais, o sistema é a rede de proteção dos mais vulneráveis à pobreza cujo número só faz aumentar.
E fique tranquilo: a Fiocruz continua atuante, protegida pelo saber e ofício de seus pesquisadores, funcionários e dirigentes, mesmo sob ataques. Nem vou entrar nos detalhes pelo absurdo das acusações.
Da saúde mental tratamos nas manifestações: “Fora, genocida!”
Resistimos. Insistimos.
As meninas estão bem, fazendo o que lhes cabe para construir um mundo melhor. Têm se encontrado com Pedro e família nas férias e, com suas diferenças, acabam por se entender e curtir estar juntos. Clarinha já completou 17 anos, Ana Lis se aproxima dos 13, e os meninos acabaram de fazer 6. Percebo nos dois algo de você – no jeito de ser do Zion, no formato da cabeça do Thomaz. Há algo de você em todos eles.
Em todos nós há imensas saudades.
Beijos,
Sarah
Ary Miranda, professor da ENSP
Anamaria Testa Tambellini
Arouca foi um ser humano bendito. Generoso, doce, bem humorado, defensor intransigente dos direitos humanos, da vida e saúde do povo, dos mais desvalidos, dos vulneráveis, de um proletariado sofrido e abusado pelos patrões e pelo poder.
Sempre usou sua palavra, sua inteligência e energia, sua sensibilidade e amorosidade – todas as suas capacidades e ousadias – a serviço da luta pela construção coletiva de um mundo melhor e mais justo.
Ele era um homem forte e decidido, compartilhando sempre seus desejos de paz e felicidade com todos aqueles que dele se aproximavam.
Na sua passagem pela Unicamp, Arouca exerceu o cargo de professor no Departamento de Medicina Preventiva e Social, que se tornou um dos locais onde se nasceram as primeiras ideias, discussões e experimentações do campo de conhecimento e práticas em saúde que, mais tarde, viriam se constituir como a “Saúde Coletiva”.
Arouca elaborou nesse período (1969-1974) uma tese a ser defendida para receber o título de Doutor em Ciências. Ela foi usada, como também outras, pela repressão ditatorial implementada na universidade com o intuito de forçar a demissão de professores considerados subversivos.
Essa tese, hoje reconhecida internacionalmente como marco de uma nova era para a compreensão do cuidado à saúde na América Latina, só pôde ser defendida 18 meses após ter sido concluída e entregue protocolarmente às autoridades acadêmicas universitárias e com a condição de que seu autor se demitisse.
Tal condição se estendeu ao grupo de professores e residentes mais ativos politicamente daquele Departamento e motivou e êxodo forçado de 20 pessoas que nele exerciam sua atividades de trabalho ou de formação.
Esse homem extraordinário e de múltiplas facetas tornou-se conhecido pelo Brasil afora principalmente na luta pela saúde, que cresceu em torno do Movimento da Reforma Sanitária, que propugnava a construção de um sistema público de saúde que garantisse cuidado para todos e todas as pessoas do Brasil, sem distinções.
Como Presidente da Fundação Oswaldo Cruz, ele contribuiu também para o processo de reabertura das portas das instituições acadêmicas para os trabalhadores que foram perseguidos e punidos pela ditadura com demissões arbitrárias, exílios e perdas de cargos, entre outras medidas perversas, ao conseguir o retorno de pesquisadores, vítimas do chamado “Massacre de Manguinhos”, aos seus postos de trabalho na instituição.
Mas quero também homenagear um jovem adolescente de 16 anos chamado Antônio Sérgio da Silva Arouca, que conheci no Instituto de Educação Otoniel Mota, de Ribeirão Preto (SP), quando me tornei aluna do segundo ano do curso científico do ensino médio.
Nessa classe havia um grupo de colegas, militantes políticos aos quais me juntei, que participavam ativamente do Diretório dos Estudantes do Instituto.
Discutiam-se os problemas do ensino local e da educação brasileira, como também havia tomadas de decisão relativas tanto às mobilizações locais como de adesão às lutas estudantis nacionais.
Éramos jovens que partilhavam do amor pelo povo e pelas artes, que praticavam esportes e acreditavam na paz.
Andávamos e passeávamos juntos, éramos associados do Clube de Cinema, tínhamos grande amizade para com os músicos locais e frequentávamos os bares em que se apresentavam.
Éramos, quase todos, bons alunos.
Arouca exercia desde aquela época uma liderança incontestável entre os estudantes secundaristas: falava bem e corretamente o português, expunha suas ideias com clareza e gostava de discursar.
Desenhava com maestria e era excelente caricaturista. Estava fazendo um curso de Artes Plásticas.
Muito apegado à família de origem portuguesa, possuía pais amorosos e tinha como exemplo de vida seu querido irmão bem mais velho, José Carlos, advogado trabalhista de sindicato de trabalhadores e também militante de esquerda.
Mas, por acaso, descobri um dia um outro Arouca, além desse rapaz sério e responsável, politicamente comprometido.
Certa vez, em meus passeios de andarilha noturna pela cidade, veio em minha direção um homem todo vestido de preto, como um “Zorro” de cara e cabeça cobertas, os olhos brilhando, usando um anel esquisito e uma cinta muita fina com bolas de metal nas pontas.
Fiquei visivelmente assustada e o Zorro se descobriu.
Vi, então, que era meu colega Arouca e ele me explicou que se vestia daquele jeito quando ia jogar sinuca em desvãos na noite da cidade. Era como ele se apresentava por lá.
Os frequentadores daqueles locais, seus conhecidos e amigos de infância, também eram aficionados por aquele jogo e Arouca era bicampeão do torneio de sinuca do local.
Paulo Gadelha, ex-presidente da Fiocruz
Homenagem de Jandira Feghali
Tânia Celeste Nunes, professora Aposentada da Fiocruz, Militante da Reforma Sanitária Brasileira
Odorico Monteiro, médico, pesquisador da Fiocruz e deputado Federal (PSB-CE)
Arlindo Chinaglia, deputado federal (PT)