A saúde melhora com diálogo entre as culturas
Ir ao médico ou receber uma receita são fatos que, por sua cotidianidade, não parecem ser formas de segregação cultural. Entretanto, esta situação afeta os povos primitivos da América Latina que, devido a sua origem cultural, têm o acesso a um sistema de saúde que se adapte a seus costumes e conhecimentos prejudicado.
O concurso “Experiências em Inovação Social”, desenvolvido pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, CEPAL, com o apoio da Fundação W.K. Kellogg, identificou três modelos de saúde comunitária que expressam a diversidade cultural como processo evolutivo e fonte de expressão, criação e inovação. Os projetos “Saúde e Educação entre os Índios Hupdäh” no Brasil, “Programa de Saúde Intercultural – Modelo de saúde complementar Williche de Chiloé”, no Chile, e “Fortalecimento e Promoção da Medicina Tradicional dos Povos Pijao e Paéz del Tolima”, na Colômbia, têm sido efetivos na promoção do acesso a uma saúde que respeita a língua, os conhecimentos e as tradições culturais dos povos primitivos.
A alfabetização mútua tem pontes
O projeto “Saúde e Educação entre os Índios Hupdäh”, promovido pela Associação Saúde Sem Limites (SSL), no estado do Amazonas, parte de uma dura realidade: os Hupdäh são um grupo excluído, com potencial e possibilidades de desenvolvimento reduzidas. A principal limitação encontrada é o fato de não falarem português, situação que traz grandes dificuldades para a atenção à saúde e à educação.
Em resposta a esta situação, em conjunto com a comunidade e respeitando a diversidade cultural, desenvolvem um modelo de atenção apoiado na criação e ensino do alfabeto para a língua indígena (Hup). Diante disso, os indígenas podem estudar sem perder sua cultura e os profissionais podem se comunicar com eles para, por exemplo, prescrever receitas médicas escritas em seu próprio idioma.
O projeto reconhece e se adapta à cultura, permitindo a formação de promotores indígenas de saúde capazes de dar atenção básica a enfermidades não conhecidas pela medicina tradicional da comunidade e que causam grande impacto na população. As atividades de prevenção e atenção à saúde, por sua vez, permitem superar a exclusão geográfica e social da população Hupdäh.
Diálogo intercultural para a saúde
O modelo de saúde complementar “Programa de Saúde Intercultural – Modelo de saúde complementar Williche do Chiloé” tem como meta incorporar o enfoque holístico e as práticas de saúde consistentes com a cosmovisão do Povo Williche no sistema de saúde pública da província, promovendo uma maior satisfação das comunidades indígenas.
Recentemente foi firmado o primeiro convênio entre o Conselho Geral de Caciques Williche de Chiloé e o Serviço de Saúde de Chiloé. O acordo foi assinado pelas autoridades de ambas as entidades da localidade, ao sul do Chile, e establece os planos de trabalho para o ano de 2008.
O Cacique Mayor de Chiloé, Armando Llaitureo, afirmou na ocasião que “é um tempo especial porque o processo de mudanças nas políticas de saúde seguem tanto para a província como para as comunidades indígenas”. O Dr. Octavio Segura, Diretor do Serviço de Saúde provincial, por sua vez, declarou que “o Conselho de Caciques de Chiloé há anos vem trabalhando para valorizar a medicina indígena, o que representa uma colaboração significativa para a melhoria da saúde na região”.
Um modelo bicultural de saúde
“Fortalecimento e Promoção da Medicina Tradicional dos Povos Pijao e Paéz do Tolima” é um projeto promovido pela Asociación de Cabildos y Autoridades Tradicionales del Consejo Regional Indígena del Tolima (CRIT), cujo objetivo é o fortalecimento do modelo bicultural baseado na medicina tradicional e no sistema geral de saúde, orientado à prevenção e ao serviço integral para a população.
A proposta tem o reconhecimento pleno da medicina tradicional, por promover o desenvolvimento de hortas de ervas medicinais, a preparação de medicamentos tradicionais e a atenção médica de acordo com a cosmovisão indígena. Além disso, o projeto possibilitou o desenvolvimento e a consolidação de uma escola para formação de promotores e iniciados (médicos tradicionais) para ajudar a comunidade. O fortalecimento da medicina tradicional é promovido pelos jardins botânicos, encontros de médicos tradicionais e processos de formação de gestores culturais para difusão nas comunidades.
A criação de um modelo bicultural para atender a problemática da saúde do povo indígena Tolimense alcançou resultados positivos como, por exemplo, a ampliação da cobertura para a população indígena nos centros de atenção médica e nos hospitais, doação de medicamentos para os enfermos e oficinas de promoção e prevenção.
O programa “Experiências em Inovação Social”, realizado pela CEPAL, com apoio da Fundação W.K. Kellogg, foi aberto em 2004, e identifica programas inovadores de desenvolvimento social, para difundí-los e contribuir para a melhoria de práticas e políticas em benefício da população mais pobre da América Latina e do Caribe. Até hoje foram apresentados 4.400 projetos e seu quarto ciclo já foi iniciado.
Fonte: CEPAL Brasil