Parecer técnico destaca perigos à saúde por uso de 2,4-D em herbicidas
O Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural – Nead do Ministério do Desenvolvimento Agrário, com o apoio de 50 entidades da sociedade civil organizada, encaminhou ao presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) um parecer técnico sobre riscos para a saúde humana e animal associados ao uso de herbicidas à base de 2,4- D em plantas convencionais e transgênicas Tolerantes a Herbicidas.
O documento destaca a tendência internacional de restrição ao uso de herbicidas à base de 2,4-D, como já acontece na Dinamarca, Suécia, Noruega, em alguns estados do Canadá, províncias da África do Sul, e alguns munícipios brasileiros do estado de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Além disso, União Europeia deve também barrar o uso do herbicida no decorrer deste ano.
Segundo o relatório, a exposição ao uso de herbicidas à base de 2,4-D representa perigos à saúde, podendo causar desregulação endócrina, perturbações nas funções reprodutivas, alterações genéticas (efeito genotóxico), efeitos cancerígenos e o desenvolvimento da doença neurodegenerativa de Parkinson.
“Como a maior parte dos agrotóxicos, suas vias de exposições mais frequentes são representadas pelo contato na pulverização e manuseio do produto (via dérmica), pela inalação das partículas aéreas (via respiratória) e pelo consumo de resíduos de 2,4- D ou dos seus metabólitos de degradação em alimentos e/ou na água (via oral). Essas exposições podem ter um caráter agudo, mas são em geral crônicas no caso do consumidor, do agricultor e dos moradores das zonas rurais, que estão expostos a doses capazes de desencadear efeitos endocrinológicos graves”.
Uso em plantas transgênicas
Recentemente, a empresa Dow AgroScience solicitou a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) a liberação comercial de plantas geneticamente modificadas para tolerar altas doses de herbicidas à base de 2,4-D, sem desencadear um efeito letal nessas plantas, permitindo seu cultivo com a aplicação desses agrotóxicos em pré e pós- emergência. A CTNBio solicitou o parecer da Anvisa.
Na lavoura convencional, onde já tem provocado efeitos danosos, os herbicidas com 2,4-D são utilizados apenas na pré-emergência, sete dias antes da semeadura. Caso o pedido da empresa seja aceito, esses herbicidas poderão ser utilizados a qualquer momento, ampliando não apenas a ingestão pelos resíduos, mas também o contato através de pele e por inalação por parte dos trabalhadores.
“É importante destacar que todos os possíveis impactos negativos sobre a saúde humana resultantes do uso de herbicidas à base de 2,4-D serão amplificados – de modo quantitativo e qualitativo – pelo uso de plantas tolerantes ao 2,4-D, considerando que essa tecnologia tem como objetivo fomentar o uso de tal herbicida para o controle de plantas espontâneas”.
Ao final, o parecer destaca que há informação científica suficiente para comprovar que o 2,4-D pode ser incluído nas categorias de produto genotóxico, toxicidade do sistema reprodutivo, neurotóxico e desregulador endócrino.
O Cebes é um dos apoiadores do parecer. Clique aqui para ler a íntegra do documento.