OMS planeja regular cigarros eletrônicos sob regras do tabaco
Financial Times/Folha de S. Paulo
Preocupações vão desde falta de informações sobre os níveis de nicotina até temor de enfraquecimento das leis antifumo
Vendas globais desse tipo de cigarro passaram de US$ 20 milhões em 2008 para US$ 3 bilhões no ano passado
A OMS (Organização Mundial da Saúde) planeja regulamentar os cigarros eletrônicos sob as mesmas regras do tabaco.
Documentos obtidos pelo “Financial Times” apontam que setores da OMS estão dispostos a classificar os dispositivos eletrônicos como tabaco e sob a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT), um tratado da OMS que obriga os governos a cortar taxas de fumo.
As preocupações vão desde a falta de informações sobre o nível de nicotina dos cigarros eletrônicos ao medo de que o seu uso “reabilite” o tabaco e enfraqueça as leis antifumo.
“Cigarros eletrônicos podem resultar em uma nova epidemia de tabaco”, diz Haik Nikogosian, que supervisiona a CQCT, numa reunião do grupo, de acordo com o documento obtida pelo “Financial Times”.
Os participantes da reunião, que incluiu representantes da OMS das seis regiões globais, disseram que os cigarros eletrônicos seriam considerados produtos de tabaco segundo a CQCT se eles contivessem nicotina feita a partir de folhas de tabaco.
Essa definição englobaria grande parte das fabricantes desse tipo de cigarro, a maioria dos quais produz nicotina líquida –aquecida e, então, inalada como vapor– de folhas de tabaco.
A medida faria os cigarros eletrônicos enfrentarem as mesmas proibições de publicidade, limites para o fumo em locais públicos e altos impostos que se aplicam aos cigarros normais, o que potencialmente frustraria o rápido crescimento do produto.
As vendas globais de cigarros eletrônicos explodiram de US$ 20 milhões, em 2008, para US$ 3 bilhões no último ano, de acordo com a consultoria Canaccord Genuity. Esse crescimento tem dividido ativistas: alguns veem os cigarros eletrônicos como uma salvação para fumantes e outros como uma arma a mais para a “epidemia do tabaco”.
Um estudo publicado recentemente na revista científica “Jama”, porém, apontou que os cigarros eletrônicos podem não ajudar as pessoas a parar de fumar.
Todos os grupos multinacionais de tabaco lançaram ou estão desenvolvendo cigarros eletrônicos.
A Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco foi ratificada por quase todos os países do mundo. A FDA (agência que regula remédios nos EUA) já disse que planeja regular cigarros eletrônicos como produtos de tabaco.
Procurada, a OMS declarou que “a posição ainda não está finalizada”.
No Brasil, a venda e a importação do cigarro eletrônico são proibidas, mas o uso do dispositivo é cada vez mais frequente. Sites vendem esse tipo de cigarro por cerca de R$ 200 –há modelos coloridos, com pedras brilhantes e estojos femininos, o que, segundo especialistas, pode ajudar a “glamorizar” novamente o tabagismo.
“Ainda não sabemos todos os malefícios que o produto pode causar. O ideal seria não usar nenhum cigarro, normal’ ou eletrônico”, diz Silvia Cury Ismael, psicóloga do HCor (Hospital do Coração) e coordenadora do programa de cuidado ao fumante.