Pesquisa compara malefícios do excesso de consumo de carne com os do tabagismo

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A asa de frango que você come pode ser tão prejudicial à saúde quanto um cigarro. Isso é o que aponta um estudo publicado pela revista científica norte-americana Cell Metabolism sobre o aumento do risco de câncer em indivíduos de meia idade com dietas baseadas em proteína animal. Segundo a pesquisa, a chance de essas pessoas desenvolverem a doença é quatro vezes maior quando comparada a de quem consome pouca proteína e, por isso, o consumo é considerado tão nocivo quanto o tabagismo, embora se trate de uma afirmação controversa.

O estudo foi realizado durante 18 anos com 6,3 mil norte-americanos de, em média, 50 anos de idade. Os pesquisadores definiram uma dieta rica em proteína como aquelas em que ao menos 20% das calorias diárias provém do nutriente. Eles advertem que os norte-americanos consomem, em média, uma quantidade de proteína duas vezes superior ao recomendado, uma cota tão nociva quanto o consumo de 20 cigarros por dia.

A proteína animal controla um hormônio responsável pelo crescimento conhecido como IGF-1, que, segundo a pesquisa, estaria relacionado ao surgimento de tumores devido ao aumento desordenado de céulas. Após 65 anos de idade, porém, os níveis de IGF-1 caem drasticamente e, nesse caso, o alto consumo de proteína é benéfico, a fim de prevenir perda muscular.

Durante dois meses, os pesquisadores realizaram testes em ratos sobre dietas hiperprotéicas. De acordo com o estudo, a incidência de tumores nos animais que ingeriam pouca proteína era menor e, quando esses problemas surgiam, eram 45% menores que os tumores desenvolvidos em ratos com alto consumo de proteína.

Os pesquisadores recomendam limitar a ingestão diária a 0,8 g de proteína por quilo de peso corporal durante a meia-idade. No caso de uma pessoa de 70 quilos, isso seria aproximadamente 56 gramas, o equivalente a dois bifes de peito de frango ou a um bife de carne bovina. A alternativa é substituir carnes, ovos e laticínios por feijões e lentilhas, que também são ricos em proteínas.

A nutricionista Erika Reinehr explica o objetivo das dietas baseadas em proteínas. “Toda dieta hiperprotéica ajuda no emagrecimento. Quando o corpo esgota as reservas energéticas de carboidratos e lipídeos — gordura —, a proteína é transformada em energia”, detalha a especialista.

A pesquisa indicou também que o alto consumo de proteína animal é um efeito causador de outros males. Erika destaca os efeitos colaterais desse hábito que estariam relacionados ao surgimento de outras doenças. “Ao converter proteína em energia, o corpo aumenta a excreção de substâncias como a amônia, a ureia e o ácido úrico, que intoxicam o organismo e causam inchaço”, descreve. “Diabetes e hipertensão quase sempre estão relacionadas a alguma inflamação”, relata.

Sintomas

No ano passado, o bancário Eduardo Aquino, de 37 anos, seguiu uma dieta hiperprotéica por quatro meses. O objetivo de emagrecer foi alcançado: graças à combinação do hábito alimentar com exercícios físicos, perdeu 11 quilos. Mas alguns efeitos indesejados vieram com a alta taxa de proteínas e o baixo índice de carboidratos. “Essas dietas são restritivas quanto a frutas. Tive tontura e mal-estar porque meu nível glicêmico estava baixo e as taxas de colesterol, altas”, relembra.

O nutricionista Luís Paulo Barreto explica que os sintomas de Eduardo Aquino não são raros de acontecer em pessoas que seguem dietas ricas em proteínas, mas demandam cuidados. “Falta de concentração, irritabilidade e hipoglicemia — baixo nível de glicose no sangue — podem desencadear outros males. Tenho pacientes que já desmaiaram por terem pouco açúcar no organismo”, exemplifica.