Revista médica britânica lança série sobre saúde pública brasileira

O periódico britânico The Lancet publicou uma série de seis artigos que examinam as políticas de saúde pública brasileiras. O trabalho diz que o Brasil deu passos importantes desde 1988, quando o Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado, e mostra onde estão os desafios futuros. O lançamento foi realizado no Auditório da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS), nos dias 9 e 10 de maio. O documento é uma ampla revisão sobre a saúde e a assistência médica de nossa população, preparado por uma equipe de 29 especialistas em saúde pública, e destaca sucessos e fracassos das políticas implementadas.

A Doutora em Ciência Política, Sonia Fleury, está entre os autores. A revista inclui ainda o nome da ex-presidente do Centro Brasileiro de Estudo de Saúde (Cebes) na lista das pessoas que teriam sido fundamentais no processo de construção do Sistema Único de Saúde (SUS). Ligia Bahia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro; e Jairnilson Paim, do Instituto de Saúde Coletiva, da Universidade Federal da Bahia, Também assinam artigos na publicação. Ambos fazem parte, respectivamente, do Conselho Fiscal e Consultivo do Cebes.

Para o epidemiologista Cesar Victora, da Universidade Federal de Pelotas (RS), que coordenou o projeto, uma edição da revista médica mais influente do mundo dedicada à saúde dos brasileiros é uma oportunidade para difundir as experiências do Brasil nesse campo. “O Brasil tem tido soluções inovadores em diversos aspectos relacionados à assistência médica e à saúde coletiva e essa experiência não é suficientemente divulgada no mundo. Então, a oportunidade: tivemos contato dos editores da revista The Lancet há cerca de dois anos que nos pediram para organizar essa série para divulgar melhor o que vem acontecendo no país”, disse ao Cebes. Victora assinala que a criação do SUS é destaque mundo afora como o principal avanço do Brasíl na área de saúde nas últimas décadas. “Particularmente o que tem chegado em outros países é que o Brasil é enorme e, com uma população de quase 200 milhões de habitantes, optou por um Sistema Único de Saúde (SUS)”, disse lembrando que esse fato não é comum nos países como o Brasil.

Os estudos avaliaram a saúde pública brasileira por cinco aspectos: sistema de saúde, saúde das mães e das crianças, doenças infectocontagiosas, doenças crônicas não transmissíveis e violência e lesões físicas.
Entre os destaques positivos, os médicos mostram que o país reduziu significativamente a mortalidade causada pela doença de Chagas, pela esquistossomose, pela diarreia infantil e pela Aids. A vacinação funciona bem e, segundo Victora, o Brasil é um “exemplo” nessa área. Houve progresso significativo em relação à maioria dos aspectos citados nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, documento das Nações Unidas.

Por outro lado, a dengue e a leishmaniose visceral foram consideradas fora de controle. A saúde das mães também é uma preocupação, pois há muitos abortos ilegais e os partos são “hipermedicalizados” – metade é de cesarianas. O avanço da obesidade e das doenças relacionadas a ela também foram citados, assim como o alto número de mortes violentas, seja por crimes ou por acidentes.

Por fim, os autores sugerem uma série de ações ao governo, aos trabalhadores de saúde, ao setor privado, às universidades e outras instituições de pesquisa e formação e à sociedade civil, como formas de melhorar a saúde pública nacional. “O desafio é, em última análise, político e requer a participação ativa da sociedade, na perspectiva de assegurar o direito à saúde para toda a população brasileira”, diz o texto.

Confira o número da Lancet especial sobre o Brasil. Os textos em inglês e português estão disponíveis.

Com informações do G1