Cebes e demais entidades iniciam atividades na Cúpula dos Povos

cupula dos povosO Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes) iniciou, ontem (15), junto à Abrasco e à Fiocruz, suas atividades na Cúpula dos Povos, com o objetivo de produzir e documentar diálogos sobre a determinação social da saúde e suas relações com o modelo de desenvolvimento, o padrão de consumo e meio ambiente.

A entidade permanece na Cúpula até o dia 18 de junho, no espaço “Saúde, Ambiente e Sustentabilidade”, que hoje recebeu mais de uma centena de participantes, para apontar as contradições que o modo de produção capitalista impõe à implantação de uma agenda ambiental efetiva e solidária.

Tais debates foram abertos com a palestra do Coordenador Executivo da Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA) e Vice-presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia), Paulo Petersen, que indicou, em níveis históricos e críticos, a contradição entre a crescente artificialização da agricultura, que sinalizaria soluções tecnológicas e desenvolvimento, e a insegurança alimentar, ou a própria fome – uma das expressões mais agudas da pobreza.

Segundo Petersen, a monocultura é um problema estrutural que beneficia a um tipo de empresário agrícola, por uma lógica que se viabiliza com uma cultura agroexportadora. Como resultados dessa cultura, observa-se ecossistemas vulneráveis e grande consumo de agrotóxicos – quadros sincronizados com cenários como o aumento de obesos desnutridos e, de outro lado, um crescimento, desde 2008, de 800 millhões para 1 bilhão de pessoas vivendo em índices altos de pobreza no mundo.

Mesmo diante de tais fatos, ainda é reafirmada, pelos Estados, a necessidade de um padrão industrializado de agricultura, o que evidencia a falta de compromissos com as raízes do problema e com o planejamento de ações sérias voltadas para a reformulação das estruturas políticas que cercam o tema.

554738_319512998136368_507012670_nReferência em agroecologia, Peterson afirmou também a importância dos veículos de comunicação na modificação de tais cenários. “O que sai na grande mídia, por exemplo, é que a Rio+20 vai buscar soluções estruturais, mas não é bem assim, e é isso que está sendo vendido”, acredita. “Nosso papel é o de denunciar as falsas soluções, apresentar possíveis soluções e nos articularmos politicamente pra ver como seguimos o plano internacional daqui pra frente, porque somente agora esse tema vem sendo compreendido de forma mais amplas, inclusive pelos movimentos sociais”, continua.

Coordenando os diálogos acerca do tema, esteve o médico e membro do conselho consultivo do Cebes, Ary Carvalho, que parabenizou a atuação de Paulo Peterson e fez diversas considerações sobre os desafios da sociedade atual. Segundo Carvalho, os impactos socioambientais pioraram de vinte anos para cá, e existem preocupações com o que será definido nos próximos dias por representantes de diversos países.

Ao mesmo tempo, Ary Carvalho acredita que ocasiões como a Cúpula dos Povos são o caminho adequado para que os movimentos sociais e entidades diversas criem musculatura política para enfrentar os desafios atuais. Não apenas isso, mas possibilitam a vocalização do que significa o impacto do modelo capitalista vivido hoje para e com a sociedade. “É preciso que surjam cada vez mais movimentos que critiquem esse sistema, e que estes se fortaleçam e se articulem cada vez mais para que possamos trabalhar por cenários diferentes”.

Na tenda 2, foram debatidos importantes temas acerca da Segurança Química. Entre os palestrantes, se destacou a química e pesquisadora da Fundacentro de São Paulo, Arline Arcuri. Também segundo a estudiosa, não existe a possibilidade de se fazer uma proposta de “química verde”, como tem sido feito, sem haver sérias mudanças no estilo de vida da sociedade.

A questão do lixo eletrônico foi um dos temas enfatizados por Arline Arcuri: “Se nós, enquanto sociedade, continuarmos comprando celulares, por exemplo, sem sabermos o que fazer com os velhos, não mudaremos nenhum cenário. Vivemos um tempo de consumismo exagerado, e não dá pra se falar em crescimento eterno, vez que a matéria prima do mundo é limitada. Chegou a hora em que temos que racionalizar”.

581144_319512444803090_1985534606_nA pesquisadora defendeu que o desenvolvimento de novas tecnologias não é um problema, desde que bem pensado: “Não sou contra as novas tecnologias. Elas permitem que você tenha um crescimento da população com algum nível de segurança, conforto e necessidades básicas atendidas. O que não pode é esse crescimento ser feito de forma absolutamente não pensada, com o lucro na frente. Isso faz com que pensemos no núcleo imediato daquilo que está sendo fabricado. É essa a lógica que precisa ser modificada”.

No que tange o tema da segurança química, também se falou do manuseio de substâncias químicas, hoje controlado por normas e procedimentos que visam minimizar os riscos, os danos aos equipamentos e ao meio ambiente e preservar a saúde do trabalhador. Mesmo diante do conhecimento dessas normas, acidentes não são impedidos e contaminações ambientais ainda ocorrem, deixado rastros de destruição em muitas partes do mundo.

Outra grande discussão do dia foi sobre a produção do amianto. Diversos palestrantes elevaram o debate à importância merecida, e defenderam a proibição da produção e da comercialização nacional e internacional do amianto brasileiro, em defesa não apenas dos trabalhadores envolvidos, mas de todas as pessoas que possam ser impactadas.

Nesse sentido, o médico especialista em saúde pública, mestre, doutor e professor René Mendes, acredita na Cúpula dos Povos como uma oportunidade única de dar visibilidade ao tema que, a rigor, já não precisaria estar sendo debatido, visto se tratar de um tema com longo e trágico histórico de mais de 100 anos. “É um vexame internacional para o Brasil ter que explicar a nós, brasileiros, e aos estrangeiros, que aqui ainda prevalece a hegemonia do econômico sobre o social.”

Tal quadro demonstra o ridículo de, frente ao imenso arsenal de possibilidades tecnológicas, ainda se defender substâncias cancerígenas, atropelando os princípios da ética e do desenvolvimento sustentável e, sobretudo, descartando o “princípio da precaução”, que deveria nortear as políticas públicas do país.

301765_319517474802587_979891132_nAinda segundo o professor, existem três principais eixos da Cúpula dos Povos: denunciar as causas estruturais das crises, das falsas soluções e das novas formas de reprodução do capital; mostrar que as soluções já existem e estimular organizações e movimentos sociais a articularem processos de luta pós-Rio+20.

Na ocasião do diálogo, também discutido por referências internacionais como Laurie Kazan-Allen, da Inglaterra, Linda Reinstein, dos Estados Unidos e Kaisha Atakhanova, do Cazaquistão, foi elogiado o trabalho feito pela Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA-RJ), bem representada pela engenheira e auditora-fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego em São Paulo, Fernanda Giannasi, referência na luta pelo banimento total da produção do mineral.

Ao fim das discussões acerca de substâncias nocivas como agrotóxicos, benzeno e o próprio amianto, o médico sanitarista e pesquisador da Fiocruz Hermano Albuquerque de Castro pontuou a importância da Fiocruz, da Abrasco e do Cebes, que assumiram papeis importantes na condução das mesmas.

Preparo para o segundo dia de encontro

Neste sábado (16), as atividades no espaço “Saúde, ambiente e sustentabilidade” prosseguem acesas. Temas como a falsa solução dos transgênicos e agrotóxicos, justiça social e movimentos de resistência ganharão as discussões do dia.

Na ocasião, o Cebes promoverá o lançamento da Revista Saúde em Debate que terá como tema “Saúde, desenvolvimento e sustentabilidade: desafios da Rio+20”, às 14h, na tenda 2. Publicações da Abrasco e outras entidades também serão levadas a público.

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Programação de sábado

Manhã

Tenda 1

A falsa solução dos transgênicos e os movimentos de resistência

Horário: 9hs às 13hs

Proponentes: ANA, Via Campesina, Contag, Conaq, Fetraf, AS-PTA e Campanha Brasil Ecológico Livre de Transgênicos e Agrotóxicos.

 

Tenda 2

Saúde, Justiça Social e Ambiental entre os povos: práticas e experiências populares na saúde

Horário: 9hs às 12h30

Proponente: ANEPS – Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde

Tarde

Tenda 1

Impactos dos Agrotóxicos na saúde e no ambiente

Horário: 14hs às 17hs

Lançamento do Dossiê da Abrasco sobre Agrotóxicos

Horário: 17hs às 18hs

Proponentes: Abrasco, ANA, Via Campesina, Contag, Conaq, Fetraf, AS-PTA e Campanha Permanente Contra Agrotóxicos e pela vida.

Tenda 2

Que sustentabilidade queremos? – Lançamento de publicações sobre saúde e ambiente e debate com autores e editores

– Revista Ciência e Saúde Coletiva, da Abrasco;

– Revista Saúde em Debate, do Cebes;

– Cartografia dos afrorreligiosos de Belém do Pará;

– Um equilíbrio delicado: crise ambiental e a saúde do planeta

Horário: 14hs às 18hs

Proponente: Abrasco e Cebes

 

Localização:

Mapa Cpula dos Povos_003