USP ameaça fechar as vagas do curso de Obstetrícia

Professores e estudantes organizam ato público e abaixo-assinado.

A Reitoria da Universidade de São Paulo (USP) surpreendeu os alunos e professores da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (Each), em especial os da graduação em Obstetrícia, na última sexta-feira (18). Isso porque a diretoria da unidade enviou por e-email um boletim com copia do relatório que propõe, sem consulta à comunidade universitária, o fechamento das 60 vagas do curso oferecidas atualmente. Estudantes, ex-alunos, professores e profissionais da área de saúde pública estão se mobilizando contra a concretização do projeto.

A ideia da redução é resultado de um trabalho, iniciado em 2010, realizado por um grupo integrado pelo ex-reitor da universidade, Adolpho José Melfi, além de professores da unidade e de outros departamentos da instituição.

A mensagem da diretoria ressalta a falta de espaço físico para atender aos cursos da Each e diz que a proposta ainda será debatida. “Este relatório será debatido primeiramente entre Comissão de Graduação, os Coordenadores de Curso e a Direção”, diz a edição especial do boletim “Direto da Direção”. Ainda segundo o informe, o curso de Obstetrícia passaria a fazer parte de Enfermagem.

Em entrevista ao portal IG São Paulo, Jaqueline Brigagão, professora de Obstetrícia da Universidade disse que todos estão perplexos não apenas pela notícia da possível redução, mas também  diante da forma arbitrária pela qual foi difundida. “Não pudemos ler e debater nada ainda, não concordamos com esta visão baseada na demanda do curso e queremos frisar a importância da carreira para humanizar o parto no Brasil, como acontece nos países mais desenvolvidos do mundo”, afirmou.

A professora Simone Diniz Grilo, da Faculdade de Saúde Pública da USP), disse, em nota, que a redução está ligada justamente ao obstáculo imposto pelo conselho de enfermagem que não reconhece a autonomia da profissão. “Isto (a proposta de redução) aconteceu porque o Conselho de Enfermagem se recusa a aceitar o registro das obstetrizes, apesar de elas terem seu direito de registro garantido na justiça. Como tenho muitas amigas enfermeiras e tenho grande respeito por esta profissão, quero dizer que muitas discordam desta atitude do seu conselho e acham que as enfermeiras e obstetrizes devem estar unidas na luta por uma assistência ao parto que respeite os direitos da mulher”.

Para o sanitarista José Ruben de Alcântara Bonfim, a medida é o primeiro passo para a extinção do curso de obstetrícia da USP. Nascido de parto em domicílio, o professor acredita que a proposta é um retrocesso, sobretudo se comparada ao tratamento dado ao obstetra em países desenvolvidos. Assim como Simone Diniz, José Ruben também aponta a influência do Conselho Federal de Enfermagem na proposta de aniquilamento da graduação. “É preciso que a sociedade reaja, garantindo o exercício profissional de profissionais qualificados, informando quão útil são os parteiros com grau universitário. Isso é facilmente verificado no Reino Unido e demais países desenvolvidos. O Conselho Federal de Enfermagem é a corporação que quer excluir os obstetras não médicos para atender interesses de enfermeiros obstetras e não tem visão histórica nem reflexão sobre os danos do emprego intensivo de tecnologia para atender um fenômeno que deveria ser natural”, defendeu ele.

Em seu texto, Simone Diniz segue na mesma direção: “A parteira de nível universitário é a profissional que atende os partos das mulheres saudáveis nos países desenvolvidos, e que está associada aos melhores resultados maternos e neonatais. O Brasil precisa desta profissional com urgência, em um sistema de atenção integral e hierarquizado, principalmente agora que estamos nos perguntando os porquês do aumento das taxas de mortalidade e morbidade materna”, escreveu.

PROTESTOS CONTRA A REDUÇÃO DO CURSO DE OBSTETRÍCIA

ABAIXO ASSINADO:
Link: http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/8452

ATO PÚBLICO
Porta da Reitoria da USP, no dia 22/03 às 9:00h

MANIFESTAÇÃO NO FACEBOOK:
http://www.facebook.com/event.php?eid=202473466447962&index=1

Com informações do IG-São Paulo