Caderneta da gestante e o culto à violência obstétrica

Matéria do Intercept Brasil, publicada no início de Maio, apontou para mudanças preocupantes na Caderneta de Gestante. O documento faz a defesa da episiotomia, corte feito na vagina durante o parto para facilitar o trabalho do médico, e da manobra de Kristeller, que consiste em fortes empurrões e apertos na barriga da gestante feitos com as mãos, braços ou cotovelos durante o parto. A nota da Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos lançou nota repudiando as mudanças.

A Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos manifesta seu repúdio ao lançamento pelo Ministério da Saúde da sexta edição da Caderneta da Gestante, que recomenda práticas ultrapassadas, agressivas e humilhantes para serem utilizadas contra as gestantes e parturientes.

A Caderneta prevê procedimentos como a episiotomia e a manobra de Kristeller, práticas não indicadas pela OMS- Organização Mundial da Saúde – que não se sustentam em evidências científicas e que podem causar graves riscos à mãe e ao recém-nascido.

O secretário de Atenção à Saúde Primária, Raphael Câmara, o principal divulgador dessa caderneta e da nova Rede de Atenção Materno Infantil- RAMI- que pretende substituir a rede Cegonha, é fervoroso defensor da abstinência sexual como contracepção para jovens e opositor do ensino do uso de contraceptivos. Entre outras recomendações duvidosas orienta que a amamentação funcionaria como prevenção segura de nova gravidez. O secretário é também um forte opositor às orientações que visam eliminar a violência obstétrica.

Nós, mulheres integrantes da Rede Feminista de Saúde, mais uma vez denunciamos as agressões aos nossos corpos mediante intervenções médicas abusivas e cruéis. Sabemos que o corpo da mulher é um território em disputa pelos conservadores de diferentes matizes. A isso nos opomos e utilizaremos todos os meios para coibir e combater esses abusos.

Para cúmulo do escárnio e do desrespeito essa Caderneta foi lançada como uma homenagem aos Dia das Mães. Enfim, nada de diferente daquilo que o presente governo sempre faz contra brasileiros e brasileiras, tendo como fato mais emblemático as ações negacionistas e genocidas durante a pandemia do Coronavirus, e o grande aumento no número de mortes maternas devido à demora em definir as gestantes como grupo de alto risco e assegurar vacina a elas.

A conclusão é que temos um governo necrófilo, que transformou o Ministério da Saúde em Ministério da Morte. Por isso resistimos, lutamos, e vamos parir não só nossos filhos e filhas, mas a democracia, a mais esperada das filhas em 2022.

SALVE O 28 DE MAIO, DIA INTERNACIONAL DE LUTA PELA SAÚDE DA MULHER E DE PREVENÇÃO À MORTE MATERNA!