CEBES comenta a orientação da Secretaria de Saúde de SP sobre notificação apenas de casos graves de coronavírus

No último dia 23, a imprensa brasileira noticiou que a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo orientou às unidades de Saúde do Estado a registrarem no sistema apenas pacientes internados com sintomas graves da doença. Pessoas com sintomas leves, especialmente aquelas que não sentem falta de ar, não serão registradas como casos suspeitos ou confirmados de coronavírus no sistema, tampouco serão submetidas ao teste laboratorial.

A matéria foi baseada em um e-mail enviado à Unidades Básicas de Saúde (UBS) e confirmado por Helena Sato, diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE). De acordo com Sato, é uma forma do sistema de saúde de São Paulo “focar nos (casos) graves“.

Mas para o cebiano e epidemiologista Heleno Corrêa, essa não é uma medida adequada. “Notificar é diferente de investigar. Se não notificam os casos perde-se a comparação evolutiva“.

Ao notificar e recolherem-se as notificações pode-se decidir por triagem quais serão investigados, seja por critérios de gravidade (sujeito a erros de classificação), seja por amostragem (cotas pré-estabelecidas de cada nível de gravidade estabelecida). Assim, se pode saber os níveis de detecção, falsos-positivos e falsos-negativos (todo exame tem). Determinar que não notifiquem é enterrar a cabeça na areia“, complementa.

Segundo Heleno, além disso, é necessário manter cota constante de testagem de assintomáticos por que os testes devem ser continuamente avaliados. “O governo vem comprando kits de diferentes procedências e cada lote tem sensibilidade e especificidade que devem ser acompanhados. Os Coreanos venderam kits que em alguns lugares manifestaram valor preditivo positivo de 19%. É pior que jogar cara-ou-coroa. É teste pior que o VDRL (Venereal Disease Research Laboratory, usado para identificação de pacientes com sífilis) que era muito criticado por que costuma ter VP+ (verdadeiro positivo) menor que 50%. Mesmo assim usamos o VDRL por que sabemos da vantagem de restestar os positivos. Isso é coisa básica em epidemiologia e os órgãos de estado têm obrigação de saber isso. A decisão de não testar para não ‘sobrecarregar’ é no mínimo inepta. É enterrar a cabeça na areia. Para esse nível de operação não necessitaríamos de epidemiologistas nesses serviços“, completa.