Cebes Debate relembra massacre de Eldorado dos Carajás e a luta dos Sem-Terra no Brasil

O programa Cebes Debate do dia 17 de abril prestou uma homenagem aos camponeses que foram mortos no triste episódio conhecido como o massacre de Eldorado dos Carajás. Neste dia, há 27 anos, 19 pessoas foram mortas por agentes da polícia militar do Pará e, desde então, o 17 de abril se tornou Dia Internacional de Luta pela Reforma Agrária.

O convidado do programa foi o coordenador do Instituto Latino-Americano de Agroecologia – IALA Amazônico. Ivagno da Silva Brito, filho de assentado, sobrevivente do massacre de Eldorado dos Carajás e graduado em Licenciatura plena em educação do Campo com ênfase em ciências humanas e sociais. Ele afirmou que “o 17 de abril ficará marcado na nossa memória para sempre (…) A memória deste massacre precisa estar presente, viva, no nosso meio para que todos entendam que o que aconteceu em 1996 na Curva do S nunca mais se repita”. 

Ele explicou que todos os anos, neste dia, são realizadas diversas atividades políticas, culturais e religiosas e uma jornada com a juventude que reuniu mais de 400 jovens de várias regiões do país para celebrar a vida, a luta e a esperança. Foi feita uma encenação reconstituindo a cena do crime, que, na época, foi arquitetado dias antes do massacre pelos fazendeiros que se reuniram com a polícia militar para articular o conflito. Além dos 19 mortos, a ação criminosa resultou no mutilamento de 69 pessoas que ficaram feridas e que ainda hoje vivem com balas alojadas no corpo. Os eventos de segunda em Eldorado tiveram o lema: “Contra a fome, a escravidão, por terra, democracia e meio ambiente.

Para que não sejam esquecidos os 19 camponeses que foram assassinados, foi erguida na “Curva do S”, local exato do massacre, um monumento de castanheiras mortas que virou símbolo internacional de luta e de esperança. “Este monumento é uma denúncia de que há um processo de massacre permanente contra os povos indígenas, contra os camponeses e também contra a nossa biodiversidade”, disse Ivagno. 

As ações e atividades do dia 17 são o principal evento do Abril Vermelho, que é carregado em todo o país de lutas com ocupações de terra, prédio, doações de sangue, alimento, ou seja, um conjunto de ações que envolve toda a sociedade brasileira. 

Ivagno disse que, além de celebrar o dia de luta pela reforma agrária, este é um dia também para lutar contra o latifúndio e contra o grande capital nas suas formas de exploração e expropriação das nossas riquezas naturais. Ele disse ainda que a enorme desigualdade social no campo é uma das razões que leva os ativistas do MST a lutar pela democratização da terra para que todos possam ter acesso a direitos fundamentais como trabalho, saúde, escola, educação, saneamento, habitação e formação de qualidade.

O líder camponês ressaltou que este dia também é importante por ser um momento que sintetiza todas as formas de luta contra agronegócio, modelo de desenvolvimento pautado para o campo brasileiro. Para ele, a rigor, é a agricultura familiar quem alimenta a grande maioria do povo brasileiro.

– Estamos às vésperas de completar 40 anos do MST. Em 2024 será realizado o 7º Congresso Nacional do MST onde vamos celebrar a existência de um movimento que foi capaz de sobreviver desde a ditadura militar até este modelo fascista que está surgindo no nosso País. Vamos celebrar a vida e projetar, junto com outras organizações, novas formas de luta que a conjuntura nos impõe no embate a este monopólio da terra e das riquezas do nosso país. 

Ao final do programa, o mediador José Noronha e o presidente do Cebes, Carlos Fidelis, agradeceram a presença do líder do MST, salientando que a agenda da luta pela terra deve ser uma constante para todos. Fidelis destacou que o movimento é uma linha de frente fundamental na luta por uma qualidade de vida e dignidade para todo cidadão e cidadã. “Se não fosse a resistência do MST, boa parte dos nossos mananciais de água teriam sido usados apenas para fazer energia e garimpar minério” concluiu Fidelis.

Assista o Cebes Debate no link ou a seguir:

Veja fotos das encenação reconstituindo a cena do crime do Massacre de Eldorado dos Carajás:

Vídeo de sobre a encenação do massacre de Eldorado dos Carajás:

Foto de uma homenagem às vítimas do massacre: