Cebes Debate: ‘Um novo Brasil é possível?’

A construção ou reconstrução do Brasil foi tema de mais um debate cebiano, desta vez com a participação da deputada federal Jandira Feghali 

A deputada Jandira Feghali foi a convidada da vez do Cebes Debate. Na pauta com o diretor José Noronha, o presidente do Cebes Carlos Fidelis e o cientista político e também diretor do Cebes, Ronaldo Teodoro, estava a reconstrução do Brasil após estes últimos anos de desgaste e desmonte nas mais diversas áreas. 

Fidelis iniciou o debate apontando justamente o saldo negativo deixado pelo governo Bolsonaro e a real tragédia promovida pelo neoliberalismo. “Como que a gente contrapõe tudo isso na perspectiva de construir um país inclusivo, democrático, sustentável, soberano no lugar do que a gente viu: uma coisa anti povo, anti nacional, anti civilização?”. 

Jandira destacou a importância do Cebes não apenas no contexto da saúde, mas também em questões sociais, políticas e democráticas. Para ela, a superação das desigualdades e a construção de um novo momento no cenário nacional deve ser uma luta constante. “Nossa primeira etapa é afirmar o Brasil como nação, como um país que decide seu destino, que é soberano e onde o povo é senhor de suas decisões”. 

A deputada apontou o adoecimento emocional da população como um dos males trazidos pelo capitalismo contemporâneo. “Esse cenário que vivenciamos nos últimos seis anos e particularmente, nos últimos quatro anos, mostrou para nós que o capitalismo não é apenas uma doutrina econômica, mas ele incide nas relações humanas, no equilíbrio das pessoas e implica na desestruturação das famílias e das relações”. Jandira destacou a vitória do governo Lula como uma vitória da democracia e a interrupção do “processo fascistizante”, da “pedagogia do medo”. 

Para a deputada Jandira, a reconstrução do Brasil passa pela evocação de valores como a solidariedade e a construção de um país que pense na superação do capitalismo. “Não consigo imaginar que a gente tenha felicidade ou bens para humanidade sem que a gente construa uma sociedade livre dessa selvageria, desse motor da desigualdade, da iniquidade, do preconceito profundo, da exclusão do que eles chamam de ‘descartáveis’, como o capitalismo chama essa grande massa de trabalhadores e trabalhadoras”. 

Nós precisamos fazer um projeto nacional de desenvolvimento sustentável, com desenvolvimento econômico e humano. Temos que olhar as relações humanas nesse processo e precisamos fazer valer a nossa identidade nacional pela pluralidade e pela diversidade”. Jandira Feghali 

O desafio da brasilidade – Ronaldo Teodoro trouxe a soberania brasileira como uma discussão historicamente necessária, sob o ponto de vista de formar um país com autonomia com relação a sua própria identidade. “O que é ser brasileiro, e a dimensão racial que se colocava nos anos 20 e 30 vem de novo com muita força e nos desafia a dar uma resposta mais alta”, apontou. 

Teodoro ressaltou a necessidade de pensarmos a questão racial como situação central na construção das desigualdades que o país enfrenta. “Qual é o lugar do estado e da economia brasileira perante essa concertação internacional do capitalismo?”, questionou. Para ele, este sempre foi um drama brasileiro e segue nos desafiando a refletir sobre a fórmula capaz de garantir nossa condição soberana. Tudo isso, lembrando que o Brasil enfrentou uma ditadura civil militar que aprofundou as desigualdades e contradições da sociedade. “Estes grandes enclaves mercantis são legados do regime militar, eles estão aí desafiando nossa forma estatal que a gente quer e deseja ser soberana”.

Há uma formação histórica que nos desafia, o golpe de 2016, em boa medida, repactua essas heranças conservadoras e traz para nossa geração um desafio histórico” Ronaldo Teodoro 

A deputada Jandira Feghali ressaltou a disputa ideológica sobre a própria concepção de Estado em seus cruzamentos com o mercado. “O mercado não resolve o problema da sociedade porque ele é concentrador de poder e de dinheiro. Estamos vivendo uma concentração de riqueza brutal no mundo inteiro”, disse. “Na própria pandemia surgiram vinte bilionários no Brasil”. 

Para a deputada é necessário que o Brasil tenha instrumentos capazes de gerar consciência social e organização popular, como os comitês populares de luta. “Com uma comunicação potente, mas como uma linguagem que chegue no coração e na consciência das pessoas”. 

Desafios ambientais – Um tema extremamente relevante para a atualidade foi levantado pelo diretor do Cebes, José Noronha. Ele lembrou a discussão sobre o chamado antropoceno, a era geológica caracterizada pela ação do ser humano na Terra e como reflete no cotidiano. “Tem um filósofo marxista, Kohei Saito, que defende que o capitalismo, nesta etapa de acumulação, tem a vocação para a destruição planetária. Portanto ele defende o ‘comunismo do decrescimento’, o que simboliza encontrarmos uma forma de partilha da riqueza e um novo modo de lidar com a natureza”. 

De acordo com a deputada Jandira, estamos realmente em um período de destruição e impotência diante dos desastres ambientais que vêm ocorrendo em todo o mundo. “Penso que o direcionamento de uma transição energética, de uma partilha de responsabilidades e contribuição deve ser perseguida, mas não acho que seja uma coisa de curto prazo, porque os interesses são muito agudos e fortes”, pontuou.  

O Cebes Debate está disponível no canal do Cebes do Youtube. Acesse clicando aqui ou assista a seguir: