Com mulher trabalhando, pobreza cai mais

Eliminar barreiras para a mulher entrar no mercado de trabalho pode ser mais eficaz para reduzir a pobreza do que igualar salários de homens e mulheres, indica uma projeção feita a partir de dados de El Salvador, México, Brasil, Argentina e Chile. As simulações estatísticas apontam que, no Brasil, uma remuneração semelhante para os dois sexos diminuiria em 10% a proporção de pobres; com acesso igual ao mercado de trabalho, a queda seria de 25%, segundo um estudo do Centro Internacional de Pobreza, uma instituição de pesquisa do PNUD, resultado de uma parceria com o IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas).

Intitulado “O Peso das Desigualdades de Gênero para a Sociedade” (ver anexo no rodapé da página) e publicado na 13ª edição da revista do Centro de Pobreza, chamada Pobreza em Foco, o estudo simulou duas situações e verificou qual seria o impacto na renda das famílias.

Em uma das situações, os salários de homens e mulheres com as mesmas características foram equiparados. Em outra, os dados foram retrabalhados como se os dois sexos enfrentassem os mesmos obstáculos para entrar no mercado de trabalho. Nas duas análises, foram levados em consideração fatores como anos de estudo, experiência de trabalho, idade, estado civil, número de filhos e idade dos filhos. “Ter filhos dificulta mais a entrada de mulheres no mercado que dos homens, por exemplo. A análise simulou que essa característica afetaria da mesma forma trabalhadores dos dois gêneros”, explica uma das autoras do estudo, Joana Costa.

Eliminando barreiras para a entrada delas no mercado, a proporção de pobres poderia cair até 25% no Brasil e na Argentina e mais de 41% no Chile. Sem diferença nos salários, a queda na pobreza variaria de 1,1% no Chile a 10% no Brasil.

“Equilibrar os salários afeta só as mulheres que já estão trabalhando e já contribuem com a renda da família. Eliminar barreiras para elas entrarem no mercado aumenta o número de mulheres com renda”, observa Joana. “Essas mulheres tinham um rendimento zero e passariam a contar com um valor positivo. Isso tem um forte impacto na redução da pobreza”.

A diminuição das diferenças de gênero no mercado de trabalho também tende a estimular o crescimento econômico, afirma o estudo. Sem barreiras de gênero para as mulheres entrarem no mercado de trabalho, essa expansão poderia ser de 6% no Brasil e de até 11% no Chile e em El Salvador. Equilibrando as diferenças de salário, o crescimento variaria de 2% em El Salvador a 8% no Brasil.

Nos países analisados, o salário por hora das mulheres equivale a 80% do dos homens, exceto na Argentina, onde representa 92%. “Eliminado a discriminação nos salários, o ganho das mulheres cresceria substancialmente nos cinco países. Na verdade, na Argentina, no Brasil e no México ele poderia ser maior que o dos homens, porque em média a mão-de-obra feminina é mais bem qualificada que a dos homens nesses países”, afirma o estudo.

“Desigualdades de gênero no mercado de trabalho representam um peso para toda sociedade, não só para as mulheres. A redução da distância nos salários e na participação pode resultar em aumento do crescimento econômico, assim como na redução da pobreza e da desigualdade”, destaca o texto.

 

Fonte: PNUD Brasil