Crise de alimentos pode ajudar AL, diz FAO

Um estudo do Escritório Regional da FAO para América Latina e Caribe afirma que os países da Região deveriam aproveitar as oportunidades que surgem da situação atual para impulsionar sua agricultura. O informe também destaca que, devido à heterogeneidade existente na América Latina e Caribe, os impactos da alta de preços não serão iguais para toda a Região. Os países mais vulneráveis seriam os importadores de alimentos e energia, e o principal risco associado ao aumento dos preços dos alimentos seria o agravamento da já muito desigual distribuição de renda.

O estudo ressalta que, em seu conjunto, América Latina e Caribe é uma Região exportadora de alimentos e que a oferta dos cultivos mais consumidos por sua população supera em 40% a demanda. A alta dos preços representa um estímulo, principalmente para que o setor de agronegócios aumente sua produção, já que dispõe das capacidades e incentivos para expandir sua participação no mercado internacional.

Além disso, o Escritório Regional da FAO realça que também há oportunidades para os países importadores de alimentos em condições de substituir importações, pondo em uso capacidades ociosas de sua agricultura. Este é um tema relevante também para a agricultura familiar. Segundo a FAO, este setor é o principal provedor de alimentos nos países de América Latina e Caribe, e, em alguns casos, representa quase 80% do emprego agrícola na Região.

No entanto, a agricultura familiar ainda tem capacidades ociosas e potencial necessário para conseguir aumentos significativos de produtividade a curto prazo. Experiências da FAO sugerem que existe a possibilidade de até duplicar os rendimentos da agricultura familiar se forem usadas tecnologias disponíveis, mas que nem sempre estão ao alcance dos pequenos agricultores.

“A alta dos preços representa grandes desafios para América Latina e Caribe e precisamos ter claro que o caminho para superar a situação atual é aproveitar as oportunidades que se apresentam. Com o devido apoio, os pequenos produtores podem deixar de ser um problema para a segurança alimentar e passar a ser parte da solução na Região. Até agora, as políticas públicas destinadas em geral a este grupo privilegiavam o aspecto da proteção social – que é importante – sem dar a devida relevância a seu potencial produtivo”, afirmou o diretor de Políticas do Escritório Regional da FAO e um dos autores do estudo, Fernando Soto Baquero.

Riscos

Quanto aos riscos, a FAO observa que, com a disponibilidade de alimentos na América Latina e Caribe, as possibilidades de uma crise de desabastecimento são mínimas, salvo o caso específico do Haiti e de algumas zonas localizadas de países que têm sido afetados por desastres naturais. No entanto, isso não impede que a alta dos preços tenha importantes impactos socio-econômicos na Região, porque ainda que haja alimentos suficientes para todos, a distribuição desigual de renda faz com que eles nem sempre sejam acessíveis aos mais pobres.

Segundo informação compilada pela FAO em 20 países da Região, a inflação dos alimentos entre Janeiro e Julho de 2008 supera em 50% a inflação geral. O impacto sobre as famílias pobres tende a ser mais elevado, já que gastam a maior parte de seu orçamento na compra de alimentos. Em países como Bolívia, Colômbia, Guatemala, Honduras, Jamaica, Nicarágua, Paraguai e Peru os gastos com alimentos nos setores mais pobres superam 60%.

Por outro lado, a heterogeneidade da América Latina e Caribe significa que, ainda que a Região seja uma produtora e exportadora de alimentos, muitos países dependem da importação para abastecer sua população. Visto que a atual alta dos preços não só afeta os alimentos mas também o petróleo, os países mais vulneráveis a essa situação são os importadores dessas duas áreas, porque têm menos possibilidades de aproveitar as oportunidades apresentadas.

Iniciativa sobre a subida dos preços dos alimentos (ISFP)

A identificação dos países mais vulneráveis levou a FAO a priorizar a atenção aos países pobres e importadores de alimentos e petróleo, ao lançar sua iniciativa sobre a subida dos preços dos alimentos (ISFP, por suas siglas em inglês). O objetivo básico é apoiar os Governos destes países a pôr em prática medidas urgentes que impulsionem o fornecimento de alimentos através da distribuição de insumos agrícolas, como sementes e fertilizantes. Para América Latina e Caribe, a FAO destinou 7 milhões de dólares aos projetos de ISFP aprovados, que beneficiam 15 países: Antígua e Barbuda, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Haiti, Honduras, Jamaica, Nicarágua, República Dominicana, Saint Kitts e Nevis, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas e Suriname.

No âmbito desta Iniciativa, até princípios de Agosto foram aprovados cerca de 80 projetos em todo o mundo, num valor total de aproximadamente 50 milhões de dólares e beneficiando 54 países, principalmente da África e da Ásia. Cerca da metade do financiamento vem de fundos próprios da FAO e o restante de doadores, principalmente o Escritório de Coordenação para Assuntos Humanitários das Nações Unidas e a Espanha.

Mais informação: A nota “Aumento de los precios de los alimentos en América Latina y el Caribe” está disponível, em espanhol, no seguinte endereço: http://www.rlc.fao.org/es/temas/precios/pdf/precios.pdf . Para outras informações sobre a atuação da FAO na Região, visite: www.rlc.fao.org

 

Fonte: ONU Brasil