Declaração final do XVII Congresso Latino-Americano de Medicina Social e Saúde Coletiva

A Associação Latino-Americana de Medicina Social (Alames) promoveu de 17 a 21 de julho o XVII Congresso Latino-Americano de Medicina Social e Saúde Coletiva em Buenos Aires, Argentina. O evento, que reuniu mas de 1000 pessoas de 15 países latino-americanos terminou com a divulgação da seguinte nota:

DECLARAÇÃO FINAL DO XVII CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE MEDICINA SOCIAL E SAÚDE COLETIVA

Reunião de 17 a 21 de julho de 2023 na cidade de Buenos Aires.

Com a participação de mais de 1000 pessoas de 15 países latino-americanos reunidos sob o lema Sindemia, Reconfiguração do Mundo e Luta pelo Bem Viver.

Nós declaramos:

Nós nos referimos à Sindemia pelos vários acontecimentos que ocorreram simultaneamente em sinergia com a pandemia de COVID-19, expondo as profundas desigualdades existentes. A pandemia tornou visíveis as populações vulneráveis, como, por exemplo, os idosos, as prisões, diferentes formas de marginalização como vilas, favelas, etc. Em outras palavras, toda a população não produtiva para este sistema mercantilista foi a primeira a sofrer as consequências da doença.

A simples aparição do COVID-19 se deveu, entre outros fatores, ao desprezo pela Mãe Terra. A poluição, o extrativismo, as pulverizações e uma lista interminável de formas de produção e exploração exercidas pelo capitalismo estão conduzindo o mundo a uma catástrofe que se acelera cada vez mais.

Não foi apenas a crise sanitária que a humanidade sofreu, mas também a lógica mercantil que aprofundou a distribuição desigual de recursos, insumos e vacinas, para citar apenas alguns pontos. A concentração de riqueza foi exacerbada, enquanto a complexidade da vida e o sofrimento da maioria aumentaram progressivamente.

O capitalismo gera conflito, recorre à ciência para encontrar soluções, mas não perde tempo em mercantilizar essa solução, por meio dos direitos de propriedade intelectual, para continuar nesse perverso processo de concentração de riqueza.

Reconfiguração no Mundo:

O mundo está passando por uma reconfiguração.

Em uma primeira etapa, a globalização econômica ergueu muros para os cidadãos e abriu fronteiras para as mercadorias. Isso resultou em um empobrecimento maior de regiões como a África. O Mediterrâneo cobriu seu fundo com cadáveres de pessoas que tentaram chegar aos países que causaram esse declínio. Aqueles que conseguiram chegar foram recebidos em abrigos repletos de ódio e racismo.

Após a queda do socialismo real na Europa, um império que se recusa a perder sua posição dominante enfrenta o surgimento de novos atores. Chegamos a uma guerra entre a Rússia e a OTAN, com suas consequências na perda de vidas principalmente, mas também em alimentos, energia e, acima de tudo, naquela variável que o capitalismo costuma explorar em tempos de crise, a indústria armamentista.

Repudiamos a persistência do bloqueio aos países irmãos Cuba e Venezuela. Esse bloqueio injusto não apenas constitui uma interferência indevida em assuntos soberanos, mas também gera sofrimento humano inaceitável.

Outro ponto que se destaca, já em diversos de nossos encontros, é a persistente crise humanitária no Haiti, onde o desrespeito à cultura e à economia do povo haitiano leva às piores práticas de escravidão e racismo, geradas pelos imperialismos francês e norte-americano.

A ditadura na República de El Salvador, liderada por um personagem sinistro, vem com o discurso autoritário da “ordem” e usa as mal chamadas “redes sociais” como forma de contato com o povo. É outra cunha do imperialismo na América Latina.

No caso argentino, não podemos deixar de mencionar a criminalização do protesto, a violação de direitos por meio de uma expressão hipócrita disfarçada de uma mudança na constituição provincial, que abre caminho para a usurpação e expropriação das terras dos povos originários. Não se pode esconder a presença de aves de rapina para saquear o lítio. Estamos falando de Jujuy, um laboratório para os projetos da extrema direita.

Espero que esta tradução atenda às suas necessidades. Se precisar de mais ajuda ou tiver mais textos para traduzir, não hesite em me perguntar.

O Bem Viver:

A categoria do neoliberalismo não compreende a situação contemporânea de destruição do tecido social. Precisamos construir novas categorias para sua compreensão. A direita se apropria das palavras para lhes dar um uso que as esvazia de significado. A liberdade não é uma questão de mercado. A solidariedade foi destroçada para dar lugar a um individualismo exacerbado. Nesse contexto, o ódio é moeda corrente. Como bem sabemos, aquele que pensa com ódio não pensa, odeia.

Os algoritmos não devem nos organizar socialmente. Eles são uma nova forma de expressão do colonialismo. O vazio de significado que eles geram produz uma incerteza no viver que facilita o exercício da exploração pelo poder econômico. Esse capitalismo informacional controla nossas vidas e nos explora, enquanto acreditamos que somos livres e autônomos.

Nessas condições, o Bem Viver se apresenta como uma nova compreensão da realidade que recorre à memória e à cosmovisão ancestral, espiritual e mística de nossos povos para construir o horizonte de sentido comum que podemos compartilhar. Somos interdependentes, entre humanos e não humanos, entre seres múltiplos que habitam o que chamamos de mundo compartilhado.

Temos o desafio de caminhar juntos nesse sentido. Transformar nossa compreensão da realidade dinâmica, que não se detém e não se deixa reduzir a formas estáticas. O pensamento científico técnico colonial, racializado e patriarcal deve ser abandonado em nossos processos educativos em saúde. Embora o desafio seja enorme, já estamos caminhando. Não há espaço para o pessimismo. A utopia, do povo para si, nos permitirá fazer o caminho ao andar.

Acesse o documento original, em espanhol, no formato PDF: