Demarcação é condição para Saúde Indígena, afirma 20º Acampamento Terra Livre

A demarcação é a mãe de todas as lutas, e a Saúde Indígena depende da terra. Reunidos em Brasília, nesta semana (21 a 26/04), cerca de 8 mil indígenas, vindos de todo o Brasil, cobram a demarcação, no 20º Acampamento Terra Livre, organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e suas sete organizações regionais de base (Apoinme, ArpinSudeste, ArpinSul, Aty Guasu, Conselho Terena, Coaib e Comissão Guarani Yvyrupa).

“Hoje a gente enfrenta um contexto de devastação, morte institucional, com a tentativa de legalizar o marco temporal, que permite que a nossa terra seja negociada, nossa vida seja negociada”, afirmou o geógrafo sanitarista Ruan Italo Guajajara, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), ao Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes).

“A gente entendia que, no governo Lula, a demarcação seria mais fácil, mas a demarcação tem sofrido grandes retaliações no Brasil, tem caminhado a passos lentos, a partir de uma perspectiva de conciliação com grileiros, fazendeiros. A gente entende que isso não é saudável, para nós, para o meio ambiente. Garantir a demarcação de terras é garantir a Saúde, a segurança alimentar, a mitigação do aquecimento global”, avaliou.

Território para mim é vida – “Quando a gente está na retomada não tem saúde de qualidade. Quando a gente vai atrás da Saúde, falam que a Saúde não pode ser atendida porque está na área de litígio.  [Sofre] também quem está na fronteira”, disse o coordenador da Apib, Norivaldo Mendes Guarani Kaiowá, sobrevivente ao massacre de Caarapó. “Sem o território não há saúde de qualidade, não há educação de qualidade, não há vida. Território para mim é vida”, afirmou Norivaldo ao Cebes.

O coordenador executivo da APIB e do Conselho do Povo Terena Alberto Terena destacou a importância de manter e fortalecer o subsistema de Saúde Indígena, reivindicação dos povos originários. “Foi uma luta do movimento indígena para que tivéssemos uma secretaria voltada para o nosso povo indígena. Por que isso? Porque temos uma Amazonia muito grande, temos o Pantanal, temos nossos povos em diversos contextos. É necessário que esse atendimento chegue a diversos contextos”, ressaltou ao Cebes. “Queremos que o governo, através da Saúde, da assistência, chegue ao nosso território”, afirmou Alberto Terena, que relembrou a crise sanitária Yanomami.

Desafios da Saúde Indígena – A médica Wilses de Sousa Tapajós, especialista em Medicina da família e comunidade e mestra em Saúde da família, ressaltou a importância de fortalecer a Atenção Primária à Saúde (APS) nos Distritos de Saúde Indígena (Dsei) e o cuidado aos trabalhadores da Saúde Indígena.

As doenças crônicas já são uma realidade nas aldeias, convivendo com problemas históricos como as picadas de ofídios. “Precisamos discutir como nós, profissionais e gestores da Saúde, podemos fazer esse acompanhamento de doenças crônicas, sem transferir toda a responsabilidade para a população”, avaliou. Saúde Mental é uma grande preocupação para Wilses, que destacou a questão do alcoolismo e do suicídio de jovens indígenas.

“Outro cuidado que eu tenho, como médica, é com medicalização. Há doenças que precisam ser medicadas, mas é preciso fortalecer também a medicina tradicional, a questão dos chás, das puxações, a questão mesmo do cuidado um com outro, do cuidado coletivo no território. Equipes que adentram o território precisam ter esse entendimento”, avaliou. “Os profissionais de Saúde também estão expostos, estão em uma cultura diferente, e é preciso também estar atento às necessidades desses trabalhadores, para que estejam motivados. O medo e a insegurança fazem com que esses laços com a comunidade não se fortaleçam”, afirmou ao Cebes.

Apoio ao Acampamento – O Acampamento Terra Livre é organizado pela APIB e suas sete organizações regionais de base. “A gente entende que voz, a luta, as demandas precisam ser faladas e protagonizadas pelos parentes, mas a gente precisa de apoio na infraestrutura e logística, na alimentação, no translado dos parentes, com meios para que a nossa luta ocorra”, ressaltou Ruan Italo Guajajara. 

Confira a programação no site da APIB e saiba como apoiar a mobilização indígena.