Estudo com mulheres analisa hipertensão e trabalho

Na semana em que se celebra o Dia Internacional da Mulher (8/3), pesquisa realizada na ENSP mostra que raça, idade, renda, estado civil, número de filhos e apoio social no trabalho são fatores que interferem na prevalência de hipertensão arterial em mulheres que trabalham fora. O estudo analisou a ocorrência do estresse no trabalho, da hipertensão arterial e da associação entre ambos na população feminina do Estudo Pró-Saúde – estudo longitudinal de funcionários técnico-administrativos de uma universidade no Rio de Janeiro – e resultou na tese de doutorado de Márcia Guimarães de Mello Alves.

A pesquisa entrevistou 1.819 mulheres e seu objetivo inicial foi apurar a relação entre trabalho e hipertensão feminina. As entrevistadas tinham de classificar o perfil do trabalho que realizam em pouca demanda psicológica ou muita demanda psicológica. Esta última opção, já comprovadamente mais danosa e influente na pressão arterial, de acordo com a autora da tese, refere-se àqueles serviços em que as mulheres teriam pouca possibilidade de controle, ou seja, não tinham suas opiniões respeitadas, pouco espaço para sugerir mudanças e para definir diretrizes.

“A pesquisa foi realizada em 2004, mas seus dados continuam bem atuais”, destacou a pesquisadora. “Este perfil de serviço de alta exigência foi assinalado por 21% das participantes. Curiosamente, além das hipertensas estarem em maior número neste grupo, também foi significativamente maior a presença – em diferença estatística de quase duas vezes – daquelas que não praticavam nenhuma atividade física, das que consumiam álcool de forma moderada ou alta, das fumantes e das com sobrepeso”, lembrou Márcia Alves.

Além disso, o apoio social no trabalho, a ocupação, o local de trabalho e o tempo em que se desempenhava a mesma função apresentaram interferência na prevalência da hipertensão arterial. “Essas mulheres são principalmente pardas ou negras e possuem menor escolaridade e renda, características associadas à maior chance de hipertensão arterial. Assim, torna-se necessário aprofundar as investigações que avaliem a participação conjunta dessas características no desenvolvimento da hipertensão arterial.”

Ainda de acordo com Márcia, o aumento da participação feminina no mercado de trabalho e a carência de estudos sobre estresse no ambiente de trabalho e hipertensão arterial nessa população reforçam a importância da tese. “No Brasil, as doenças cardiovasculares em mulheres constituem a principal causa de mortalidade e a segunda causa de internação hospitalar. Dessa forma, os resultados dessa investigação apontam a necessidade de novas pesquisas sobre o mesmo tema, levando em consideração alguns aspectos que não puderam ser abordados na fase atual do estudo, além da necessidade de uma investigação longitudinal, na qual tanto o estresse no trabalho quanto outros momentos da vida feminina, além do profissional, possam ser considerados.”

Fonte: Informe Ensp (10/03/2011)