Estudo mapeia leitos de UTI, Respiradores e Ocupação Hospitalar e necessidades do SUS para enfrentar o Covid-19

A nota técnica “Necessidades de Infraestrutura do SUS em Preparo ao COVID-19: Leitos de UTI, Respiradores e Ocupação Hospitalar”  é um trabalho dos pesquisadores Beatriz Rache, Rudi Rocha, Letícia Nunes, Paula Spinola, Ana Maria Malik e Adriano Massuda. Ela foi divulgada inicialmente na FGV (clique aqui para acessar).

No Sistema Único de Saúde (SUS), em 72% das regiões de saúde do país, o número de leitos de UTI por 100 mil habitantes é inferior ao mínimo necessário, mesmo para um ano típico, sem considerar as necessidades colocadas pelo Covid-19. Este dado consta de um estudo divulgado neste domingo, 22 de março, pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps). A nota técnica “Necessidades de Infraestrutura do SUS em Preparo ao COVID-19: Leitos de UTI, Respiradores e Ocupação Hospitalar”  é um trabalho dos pesquisadores Beatriz Rache, Rudi Rocha, Letícia Nunes, Paula Spinola, Ana Maria Malik e Adriano Massuda, no qual eles realizaram uma “série de exercícios empíricos com o objetivo de contribuir com informações para o dimensionamento e a alocação de recursos hospitalares necessários ao enfrentamento do COVID-19”.

O trabalho teve três características principais, todas com o foco de distribuição regional: mapear leitos de UTI, ventiladores e respiradores; cruzamento da infraestrutura com as causas de mortalidade da população para identificar regiões mais vulneráveis e projeções da capacidade de atendimento X evolução dos casos.

mapeamento detalhado do número de leitos de UTI e de ventiladores e respiradores existentes no país, mostrou uma razão de “15,6 leitos de UTI por 100 mil habitantes, sendo a média no SUS de 7,1. Documentamos, no entanto, enorme heterogeneidade regional e escassez de recursos na maioria das regiões do país”, apontam os pesquisadores. O trabalho aponta que “incluindo SUS e privados, mais de metade das regiões (279 de 436) tem menos do que 10 leitos por 100 mil habitantes. Apenas no SUS, 316 de 436 estão abaixo do mínimo, ou 72% das regiões, o que corresponde a 56% da população brasileira total e 61% da população sem cobertura de planos privados de saúde. Ou seja, estas regiões encontram-se já abaixo do mínimo em um ano típico, sem a influência do COVID-19.

O estudo aponta que das 316 regiões de saúde com número de leitos de UTI pelo SUS abaixo do mínimo, 142 regiões não possuem leito algum. Isso significa que 14,9% da população exclusivamente dependente do SUS não conta com leitos de UTI na região em que reside. “Estas regiões se concentram no Norte, Nordeste e Centro-Oeste: ao todo, 30,5% da população unicamente dependente do SUS no Nordeste, 22,6% no Norte e 21,0% no Centro-Oeste residem em regiões de saúde sem leitos de UTI”. Esses dados estão identificados no gráfico abaixo.

Leitos de UTI no SUS por 100 mil usuários

O segundo trabalho dos pesquisadores foi o cruzamento de infraestrutura X características de mortalidade da população: “Identificamos que 30% das regiões de saúde do país são particularmente vulneráveis, devido a uma combinação de infraestrutura de leitos de UTI aquém do mínimo e mortalidade por condições similares ao COVID-19 acima da mediana nacional. Dentre as regiões  mais vulneráveis, nota-se uma sobre-representação do Sudeste (onde 40,4% da população dependente do SUS reside em regiões que denominamos como vulneráveis) e Nordeste (21,8%)”, informam os pesquisadores.

Regiões de saúde especialmente vulneráveis

A terceira dimensão do estudo foi a projeção das taxas de ocupação de leitos adultos de UTI no SUS para diferentes cenários de infecção do COVID-19 frente à ocupação observada em 2019 (ano base): “Mostramos que em um cenário de 20% da população infectada, e 5% dos infectados necessitando cuidados em UTI por 5 dias, 294 das 436 regiões de saúde do país ultrapassariam a taxa de ocupação de 100%. Em particular, 53% delas necessitariam ao menos o dobro de leitos-dia em relação a 2019 para tratar os casos mais críticos”.

Os pesquisadores também estimaram os efeitos da desaceleração do ritmo de infecção. “Mesmo em um contexto com baixo número de leitos de UTI per capita, uma desaceleração da taxa de infecção populacional pode diminuir consideravelmente a superlotação  consequente. Desacelerando a infecção de 20% da população de 12 meses para 18 meses, o número de regiões de saúde com ocupação superior a 200% (i.e. nas quais o número de leitos precisaria dobrar para comportar todas as hospitalizações) diminuiria de 235 para 172. O contrário,uma aceleração de 12 para 6 meses levaria todas as regiões de saúde, exceto duas, a uma lotação superior a 200%.

Cenários de ocupação de leitos de UTI por taxa de infecção populacional e intervalo de tempo

O estudo, sua metologia e resultados foram colocados à disposição das autoridades pelos pesquisadores, que destacam que “a alocação de recursos para ampliar leitos em UTI no SUS deve ser tomada  rapidamente, orientada pela necessidade local e coordenada em âmbito regional e nacional.”.


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