Guerra na Faixa de Gaza: Violação de direitos em tempo real

O grupo palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza, lançou em 7 de outubro um ataque surpresa a Israel. Em retaliação, os israelenses estão promovendo um contra-ataque na região, com bombardeios por todo o local. Guerra desigual deixa população palestina abandonada em uma demonstração de desumanidade sem precedentes 

Quando crimes contra humanidade são realizados por determinados governos, eles não costumam ser chamados de terrorismo pela mídia tradicional. É o que está acontecendo neste momento na Faixa de Gaza como resultado dos ataques de Israel. 

Assim como os atos de violência empreendidos pelo Hamas no dia 7 de outubro contra civis israelenses foram atos terroristas, é preciso nomear o genocídio promovido pelas forças de Israel – que no momento em que escrevemos este texto (18 de outubro) deixa 2,3 milhões pessoas que moram em Gaza sem energia, sem entrada de combustível e com serviços de saúde e água em colapso. 

O terror israelense há anos tem deixado a população palestina em situação de vulnerabilidade, com violação dos direitos humanos e violência nos mais diversos aspectos.  

Um relatório publicado em 2019 pela ONU (Organização das Nações Unidas) descreveu o estado de saúde mental nos territórios palestinos ocupados como crônico. Neste relatório, é estimado que metade das crianças atingidas pelas situações de violência deveria desenvolver transtorno de estresse pós-traumático. As imagens da guerra nos últimos dias trazem alguma ideia do sofrimento dos sobreviventes, sejam crianças ou adultos. 

Até o momento são estimadas mais de 3 mil mortes de palestinos – ao menos 700 destes são crianças – e 1400 israelenses. O número de feridos ultrapassa os 14 mil. Destes, mais de 10 mil são palestinos, grande parte mulheres e crianças. Estes números ainda estão desatualizados. Apenas no ataque ao hospital Al-Ahli Arab, que ocorreu na noite de terça, 17, são estimadas 500 mortes, de acordo com autoridades palestinas. 

Em Gaza sitiada, a passagem de socorro e suprimentos está proibida. De acordo com a ONU, antes do ataque ao hospital, 11 profissionais de saúde foram mortos na região.  

Os serviços de saúde em Gaza já estão em situação de colapso. O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) informou que há cerca de 50 mil mulheres grávidas privadas de serviços básicos de saúde. “Cerca de 5.500 darão à luz neste mês. Essas mulheres precisam de cuidados e proteção urgentes. Todas as partes devem cumprir suas obrigações sob a lei humanitária internacional”, declarou o representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) para a Palestina, Dominic Allen em entrevista à rede CNN. 

Este é um processo que começou em 1948, com a Nakba*, é a limpeza étnica promovida pelas milícias israelenses que depois se tornaram o exército de Israel. Grande parte dessa população que está em Gaza ou na Cisjordânia, além de toda população refugiada não só na região, como no mundo inteiro, são refugiados que viviam em outras partes da Palestina Histórica e foram expulsos nessa época”, explica Gabriel Semerene, mestre em política comparada do Oriente Médio. “Agora estamos vendo a continuação desse projeto”. 

Para ele, a ação das forças sionistas faz parte de uma limpeza étnica premeditada. “Ela representa o avanço desse projeto colonizador, e num ponto de vista global, ela representa a continuação e até uma intensificação em termos de poderio, do projeto colonial em geral. Se trata de uma ferida aberta na ordem colonial que escancara, sobretudo, pelo apoio cego do Ocidente, porque ele se inscreve nessa lógica colonial do domínio ocidental e dos privilégios materiais e simbólicos que isso traz”. 

Abandono internacional – Apesar da condenação dos crimes contra civis e da ONU dizer que “Gaza está de joelhos”, a comunidade internacional assiste ao vivo o massacre de uma população composta por 2 milhões de pessoas cercadas. O Conselho de Segurança da ONU, neste momento, presidido pelo Brasil, ainda não conseguiu consenso nos textos apresentados. 

É necessário que o conselho aprove no mínimo um cessar fogo e corredores humanitários para permitir o acesso de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Na reapresentação da proposta nesta quarta, 18, o voto dos Estados Unidos vetou, entre outros pontos, o estabelecimento de uma pausa no conflito. “Estão deixando Israel, realmente fazer esse genocídio”, aponta Semerene. 

O embaixador do Brasil na ONU, Sérgio Danese, lamentou o veto. “Tristemente, muito tristemente, o Conselho mais uma vez não conseguiu adotar uma resolução. Silêncio e inação prevaleceram, para o interesse de ninguém no longo prazo de ninguém”. 

*Nakba é um termo que em árabe “desastre”, “catástrofe”. Este foi o nome dado ao novo projeto colonial implementado na Palestina em 14 de maio de 1948, quando terminou o mandato britânico e quase um milhão de árabes palestinos foram expulsos pelo processo de expansão e domínio de Israel.