Dirigente do Cebes Heleno Corrêa analisa números da pandemia de março e critica relaxamento de medidas sanitárias

Tendências da COVID-19 EM 22/03/2022: Quem mandou abrir tudo não olhou os números; Se olhou, não viu, e se viu, dormiu

O dirigente do Cebes Heleno R. Corrêa Filho analisa o cenário da pandemia de Covid-19 nesse final de março, que, por conta da variente ômicron, registra pico de casos maior que as ondas anteriores – com menor número de mortes por conta da vacinação. Heleno diz que “o Brasil vive a realidade mundial de ser o terceiro país no mundo com maior número de casos, com pior índice de testes do mundo com acesso à tecnologia “. Ele critica também gestores políticos que decretaram o relaxamento de medidas sanitárias, como uso de máscaras e distanciamento social.

A incidência de notificações de casos novos em março de 2022 é maior que os três picos de ondas de janeiro de 2020, abril e agosto de 2021. O pico atingido pelas variantes ômicron em janeiro de 2022 é TRÊS A QUATRO vezes maior que os picos anteriores.

A mortalidade do pico de fevereiro-março de 2022 tem medias móveis diárias de 5 mil mortos no mundo, comparada às médias móveis dos picos anteriores de até dez mil mortos por dia.

Resumindo, temos 20 a 30% a menos de mortos e cinco a dez vezes mais casos, o que era previsto face à alta transmissibilidade e Infecciosidade dos casos provocados pelas novas variantes do Sars-Cov-2.

Como são produzidos muito mais casos de doentes de COVID-19, a mortalidade no mês de março de 2022 tem magnitude igual à do período de outubro de 2020, em tempo no qual a plena Pandemia assustava a todos, tirava o ar que respiramos, empurrava governos a correr atrás de adquirir respiradores artificiais e medicações de emergência para as UTIS. O que em outubro de 2020 provocava o terror, em março de 2022 é motivo para que prefeitos, governadores e secretários de saúde absolutamente envolvidos na campanha eleitoral se declarem liberados e liberadores. O que determina o comportamento é a política e não a saúde.

Esses dirigentes políticos pressionam seus corpos técnicos de sanitaristas, epidemiologistas, vigilantes de saúde, todos cansados, extenuados, assediados por outros grupos políticos externos que falam em nome de pastores neopentecostais, políticos fascistas e neoliberais, vendedores de tecnologias consideradas “milagrosas” como os novos remédios caríssimos e fora do alcance do SUS e dos bolsos de países fora do eixo envolvido na guerra do hemisfério norte com foco na Ucrânia.

Vigilantes cansados, negacionistas ignorantes e políticos sedentos são uma receita de morte que atinge sem contabilizar nas televisões as crianças (ainda) não vacinadas, os trabalhadores desprotegidos embora vacinados, e os escolares devolvidos aos bancos de escola em atividades presenciais. O presidente da república retirou do tempo de serviço contabilizado para aposentadoria os cursos e aulas ministrados por professores pela Internet durante o período Pandêmico que estão encerrando politicamente, sem fundamentos biológicos.

Entidades de sanitaristas, médicos e profissionais de saúde recusam a posição de grandes órgãos federais de regulação profissional que embarcaram no apoio aos medicamentos ineficazes e negacionismos. Lançam manifestos bem-vindos, aconselhando uma nova etiqueta para uso de máscaras em atividades presenciais. Prefeitos e secretários de saúde adeptos das políticas de liberação simplesmente não vão ler essas recomendações. Convém aos políticos liberar tudo e depois dizer: _ “que pena! Não podíamos prever que ia morrer tanta gente”.

O Brasil vive a realidade mundial de ser o terceiro país no mundo com maior número de casos, com pior índice de testes do mundo com acesso à tecnologia (290 mil por milhão de habitantes são testados), e com maior número de mortos (3 mil por milhão de habitantes). A letalidade ou número de mortos pela doença na última semana continua desaparecida dos indicadores mundiais por que o Brasil, no “apagão de dados da saúde” é considerado não confiável.

É incompreensível do ponto de vista médico sanitário que uma combinação de técnicos de saúde “cansados” com “políticos sedentos” e “negacionistas religiosos” produza o contágio desprotegido, com baixos índices de vacinação atrasada em mais de quatro meses em relação à disponibilização das vacinas com autorização para uso no mercado nacional e mundial. Cansaço não é desculpa. Vontade política não é método. Ignorância não é atestado de defesa contra doenças. Segundo estimativas do centro mundial de COVID-19 da Johns Hopkins estamos 300 mil casos por semana, média de três mil mortos por semana, e administração semanal de cinco milhões de doses de vacinas, arrastando a vacinação lenta em crianças como grupo vulnerável retornando às aulas presenciais em fevereiro de 2022.

Se acham que morrer o mesmo número de pessoas é um “nível endêmico aceitável” deveriam pelo menos respeitar a coerência dos números e recomendar intensificar as medidas vacinais, de distanciamento e uso de máscaras apropriados. Entre março de outubro de 2022 o povo não merece o desgoverno de políticos em busca de reeleição.