Lula quer Padilha para disputar governo de SP

O Estado de S. Paulo – 22/10/2012

Ex-presidente acredita que a novidade numa eleição é fórmula que está dando certo e já pensa em lançar ministro da Saúde para a disputa estadual em 2014

Animado com a passagem de Fernando Haddad para o 2.º turno da eleição em São Paulo, e diante da possibilidade de vi­tória, levando-se em conside­ração que as pesquisas de in­tenção de votos indicam vanta­gem do petista sobre o tucano José Serra, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já pla­neja lançar uma cara nova no PT para a disputa pelo gover­no de São Paulo em 2014 – quando tentará tirar o coman­do do Estado do PSDB.

O favorito de Lula para dispu­tar o governo paulista é o minis­tro da Saúde, Alexandre Padilha. De acordo com informações de bastidores do comando do PT, Lula considera que a novidade numa eleição é uma fórmula que começa a ficar consagrada. Co­mo justificativa, tem lembrado que lançou Dilma Rousseff à su­cessão presidencial em 2010 mesmo sendo advertido de que ela nunca havia disputado uma eleição e que era desconhecida dos eleitores. Com Haddad acon­teceu a mesma coisa. Ele jamais havia se candidatado. Nos dois casos, Lula fez o lançamento das candidaturas com muita antece­dência. Depois, chegada a hora da escolha, ele pressionou o PT para que aceitasse a indicação.

No sábado, durante comício do candidato a prefeito de Cam­pinas, Márcio Pochmann (PT) – outro neófito em eleições apadri­nhado por Lula e que surpreen­deu ao chegar ao 2.º turno -, o ex-presidente exaltou a tática do novo na política. “Diziam que o Márcio era apenas um poste, co­mo diziam que a Dilma era um poste”, lembrou. “Mas é de pos­te em poste que o Brasil vai ficar iluminado.”

No caso de Padilha, o ex-presi­dente terá de fazer mais do que convencer o PT a aceitar a esco­lha, pois encontrará resistências à candidatura do ministro da Saú­de em dois petistas muito fortes em São Paulo: os ministros Aloizio Mercadante (Educação) e Marta Suplicy (Cultura). Ambos consideram-se candidatos natu­rais ao governo paulista em 2014. Como não escondem as diver­gências entre si e em relação a Padilha, Dilma ordenou aos três que por enquanto se abstenham de fazer qualquer comentário so­bre a eleição de 2014. Por enquan­to, eles têm sido obedientes.

Para lançar Padilha ao gover­no de São Paulo o ex-presidente Lula terá ainda de fazer com que o ministro da Saúde transfira o domicílio eleitoral para a capital paulista. O título do ministro é de Santarém, no Pará. Ele o trans­feriu para lá porque, logo depois de se formar em medicina, em São Paulo, fez trabalho de cam­po em Santarém. Optou por votar na cidade paraense que fica às margens do Rio Tapajós, onde o PT sempre foi forte e elegeu prefeitos seguidas vezes.

Convencer alguém a mudar o domicílio eleitoral para São Paulo não é novidade na vida de Lula. Ele já fez isso com o ex-ministro Ciro Gomes, do PSB, em 2009. Lula queria que Ciro disputasse o governo paulista em 2010 nu­ma aliança que teria o apoio do PT. Mas a ideia não vingou. O PT lançou Aloizio Mercadante, que foi derrotado pelo tucano Geraldo Alckmin.

Com Dilma, as resistências no PT foram nulas. Na Presidência da República, Lula tinha muita força no partido. Com Haddad, o lançamento da candidatura ocor­reu ainda em 2011. A pressão so­bre os petistas que pretendiam disputar as prévias veio depois.

O senador Suplicy disse que tem consciência de que Lula vai trabalhar para impor o nome de Alexandre Padilha para disputar o governo de São Paulo em 2014. “Eu estou no terceiro mandato de senador e tenho o direito de pleitear a candidatura ao gover­no do Estado”, disse Suplicy ao Estado. Ele afirmou que vai apresentar o nome aos militan­tes do partido para a disputa com Padilha.