Resenha “Saúde & Política: a doença como protagonista da história”

Luiz Carlos P. Romero, Médico sanitarista aposentado, com experiência em controle de doenças (tuberculose, poliomielite, aids, infecções hospitalares, tabaquismo). Consultor Legislativo do Senado Federal. http://lates.cnpq.br/8577182666764632

Outubro Edições, 2019.
ISBN 978-85-54818-25-8
Prefácio de Geniberto Paiva Campos.

Para John Kelly, escritor americano que escreveu uma “História Íntima da Peste Negra”, “uma das principais características de uma doença pandêmica é sua capacidade de destruir mundos, e não apenas indivíduos”.

Como médico e estudante de história, sempre me pareceu que a historiografia não valoriza o papel da doença na cena da história e da evolução humanas, sua importância como fato histórico.

Este livro é uma tentativa de demonstrar a tese de que a doença foi, muitas vezes, protagonista relevante da história, e de que esse protagonismo, se não é o do papel de causador, é o de elemento decisivo ou catalisador, em contextos de ruptura, ajudando a estabelecer pontos de virada histórica, pontos, nos quais, a história toma outra direção.

Afora os grandes desastres biomédicos representados pelas pandemias de peste, de cólera, de gripe, de varíola – que provocaram profundas transformações na organização social, nas instituições, na economia e na cultura – epidemias menores também tiveram papel histórico importante.

A primeira parte do livro trata de alguns desses eventos: os percalços da urbanização, a primeira – e única – epidemia de que se têm registros históricos, ocorrida no final da Idade do Bronze e que alterou a geopolítica do Oriente Médio, as pandemias de peste bubônica que marcaram o fim da Antiguidade e da Idade Média, uma doença que pode ter alterado a Reforma Protestante, e a destruição das civilizações americanas originais causada pelas doenças trazidas pelos invasores europeus, no século XVI.

A segunda parte estuda especificamente o papel da doença – em especial daquelas que causaram importantes crises econômicas, sociais e políticas – na definição e organização do papel do Estado em relação à saúde das populações. Nela são analisados os contextos nos quais a doença esteve presente no âmago de processos políticos que levaram à conformação de estruturas na administração dos estados modernos para o enfrentamento dos problemas de saúde coletiva, a prevenção e o controle das doenças infecciosas, a organização da assistência médica, a criação de sistemas de saúde.

Aqui é relatado o papel do cólera na criação dos primeiros organismos estatais de saúde pública na Europa, no século XVIII; a importância de uma epidemia de febre amarela para a criação dos primeiros organismos de saúde no âmbito do estado, no nosso país, no tempo do Império; a gripe espanhola e a criação do Departamento Nacional de Saúde, no início da década de 20, do século passado; a epidemia de meningite, ocorrida durante a Ditadura, e que levou à criação do Sistema Nacional de Saúde; o esforço mundial para a erradicação da poliomielite, ameaçada pela guerra e pela intolerância; o impacto da sars no imaginário coletivo e no estímulo à criação do Regulamento Sanitário Internacional de 2005; e uma análise do que nos espera se não aprendermos a lição.


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