Pelo fim do genocídio da juventude, artistas e movimentos se unem para ato em SP
José Francisco Neto
Da Redação
Desde a morte do garoto Douglas Rodrigues, de 17 anos, que levou um tiro no peito efetuado por um policial militar, no dia 27 de outubro, a desmilitarização da polícia e o fim do genocídio da juventude negra e periférica estão entre os assuntos mais repercutidos nas redes e nas ruas. Um ato que reivindicará essas demandas está marcado para esta quarta-feira (13), na Vila Sabrina, zona norte da capital, às 18h. (confira aqui mais detalhes)
O assassinato de Douglas ganhou holofote na mídia e nas redes sociais, principalmente pelo fato de o garoto não esboçar nenhuma reação durante a abordagem policial. “Por que o senhor atirou em mim?”, foi a última pergunta feita pelo jovem, logo após ser atingido por um tiro fatal no tórax, segundo relatou seu próprio irmão que presenciou a cena.
Para o integrante da UNEafro Brasil e um dos organizadores do ato, Douglas Belchior, esse será um momento de reafirmação dos movimentos. Ele explica que o ‘fim da violência estatal’ é uma reivindicação antiga das organizações que lutam por esse objetivo.
“A desmilitarização é um passo, uma etapa dessa demanda. Até porque uma polícia, mesmo desmilitarizada, continua sendo racista e tendo como principal função a proteção à propriedade privada e aos interesses dos ricos”, explica.
Após passar uma semana no Presídio Romão Gomes da Polícia Militar, o PM que atirou e matou o menino Douglas foi solto por decisão da Justiça Militar. Seu advogado alegou que o tiro ‘foi acidental’.
“É preciso colocar em xeque não só o governo de São Paulo, mas também a promotoria pública que permite uma coisa dessas”, diz Belchior.
Campanha
“Por que o senhor atirou em mim?” – pergunta que o jovem Douglas fez ao policial que o matou – foi feita por diversos rappers e agitadores culturais da periferia de São Paulo, em vídeo publicado no Youtube, neste domingo (10).
Eles também se unem aos movimentos negros e sociais pelo fim do genocídio da juventude negra e periférica e pela desmilitarização da polícia. Dexter, Emicida, GOG, KL Jay, Flora Matos, Max BO, entre outros, denunciam o racismo e a violência policial em campanha permanente.
Uma polícia não confiável
Segundo pesquisa publicada na sétima edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgada na semana passada, sete em cada 10 brasileiros não confiam na polícia. Do primeiro semestre de 2012 para o primeiro semestre de 2013, essa rejeição cresceu 9 pontos percentuais, de 61,5% para 70,1%.
O índice é muito superior ao verificado em países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, por exemplo, a desconfiança em relação à polícia só atinge 12%; na Inglaterra, 18%.
A pesquisa revelou também que os homens fardados matam, em média, cinco pessoas por dia, sendo a maioria negra. Foram 1.890 mortes provocadas por policiais em serviço em 2012, contra 1.040 no ano anterior. O número supera o de países com perfil de criminalidade próximo ao brasileiro. Caso do México, onde, no ano passado, a polícia matou 1.652 pessoas.
Redução devido à nova resolução
O índice de letalidade policial teve queda no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. Foram 41% de mortes a menos nos primeiros sete meses de 2013, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.
Porém, o fato de ter reduzido os números, segundo o professor de Direito Penal da Universidade São Judas Tadeu, José Nabuco Filho, é em decorrência da determinação da secretaria de segurança pública de que o socorro às vítimas seja feito pela equipe especializada, e não pela própria polícia.
Em artigo publicado no portal Diário do Centro do Mundo, Nabuco esclarece que os índices de mortes causadas pela PM paulista ainda é muito alto e está longe de um patamar aceitável em um regime democrático. “Basta dizer que a polícia paulista mata mais que a polícia dos Estados Unidos inteiro.”