Médicos ameaçam cruzar os braços

Sem acordo com o governo local sobre as melhorias nas condições de trabalho e o reajuste salarial, os médicos da rede pública de saúde (do Governo do Distrito Federal/GDF) ameaçam entrar em greve. Essa era a sinalização da assembleia realizada ontem (10/8) no auditório do sindicato da categoria, no Centro Clínico Metrópole, na 607 Sul (DF), que não havia terminado até o fechamento desta edição (Jornal Correio Braziliense).

Os profissionais pedem, entre outras coisas, isonomia salarial com os colegas da Polícia Civil, que têm rendimento inicial quase duas vezes maiores. Caso os profissionais cruzem os braços, a população que depende das unidades de saúde pública pode ser afetada.}

A assembleia é o assunto principal nos hospitais e postos de saúde, desde a semana passada. Para um médico do Hospital de Base de Brasília (HBDF), que prefere não se identificar, os sinais eram claros. O pessoal está muito insatisfeito porque o governo não aparenta sequer querer negociar. A vontade é mostrar nossa força com uma greve, avisa ele. Temos trabalhado muito, como sempre, e nosso salário cada vez se desvaloriza mais. Temos que nos organizar, como fazemos professores, que conquistaram muita coisa nos últimos tempos, completa o médico, que trabalha há três anos na emergência do HBDF, uma área que pode ser muito prejudicada, caso os profissionais decidam parar.

O salário inicial de um médico da rede pública é de R$ 7 mil, por 40 horas semanais de trabalho. Lutamos pela isonomia com os médicos do Instituto Médico Legal (IML), que têm salário inicial de R$ 13.600 pelo mesmo período, afirma o presidente do Sindicato dos Médicos do DF (SindMédico),Gutemberg Fialho. E essa não é nossa única pauta (veja quadro). Se o governo não nos atender até a hora da assembleia, não vejo outra saída senão aprovar o indicativo de greve, completou ele, antes do início da reunião.

Inflação

A Secretaria de Saúde informou, por meio de sua assessoria de comunicação, que só se manifestaria após um posicionamento oficial dos médicos quanto ao indicativo de greve. Ano passado, as negociações salariais entre médicos e governo acabaram bem com a concessão de reajustes que variaram de 7,75% a 12%. Com a correção, o GDF previu um impacto na folha de pagamento de R$ 33, 4 milhões, em 2008, e R$ 59,6 milhões nos anos seguintes. Agora, a categoria pede novo aumento baseado no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) no período de maio de 2008 a junho deste ano. Foi o que ficou acertado ano passado, afirma Fialho.

A categoria, formada por 3 mil profissionais, pede ainda melhores condições de trabalho. A população do DF sabe a situação da saúde. E quem pode resolver isso é o governo. Nosso déficit é de mais de mil médicos e, diante da atual conjuntura, todo dia tem profissional pedindo demissão. Até mesmo gente que nem passou pelo estágio probatório, mas já vê que não vai ter futuro, conclui Fialho.

Fonte: Correio Braziliense, 11/8/09 (reportagem de Raphael Veleda)