Vidas despedaçadas

Correio Braziliense – 21/12/2011

A interminável fila de pacientes que precisam de cirurgias nos hospitais do Distrito Federal é a confirmação da incompetência do Estado para conduzir uma política de saúde pública decente, que atenda o cidadão em suas reais necessidades; que transmita confiança e respeito à população. Mas não é esse o caso do Distrito Federal. A imensa legião de dependentes do sistema sobrevive como refém de uma gestão que não se mobiliza e engessa todas as possibilidades de mudança, não apenas na área da saúde, a mais delicada, por lidar com o ser humano.

A mídia local divulga desde a última quarta-feira o drama de 180 pessoas (número confirmado pela própria Secretaria de Saúde) que precisam de cirurgias ortopédicas, mas continuam sem atendimento. Há várias alegações do outro lado do balcão, desde a falta de profissionais da especialidade a problemas emergenciais que surgem de repente e atropelam a fila.

A verdade é que a estrutura hospitalar de Brasília continua a mesma de algumas décadas atrás e a população cresceu. A verdade é que o Estado não apresenta planejamento eficiente para resolver o problema e trata de, no máximo, responder a críticas e acusações colocando sempre a culpa no outro.

Quando faltam remédios na farmácia popular para pacientes de doenças crônico-degenerativas, a culpa é da empresa fornecedora ou do repasse de verbas; quando as pessoas reclamam da ausência dos médicos nas escalas de plantão, afirma-se sempre que é preciso fazer mais concursos, contratar mais especialistas. Enquanto isso, câmaras de tevê flagram os doutores da rede pública trabalhando em luxuosas clínicas da capital no mesmo horário em que deveriam estar atendendo a demanda do SUS.

O problema é que os erros do passado se repetem e as engrenagens do poder emperram de propósito assim que se pisa no vasto portal de alternativas e atitudes competentes que poderiam mudar a realidade trágica do DF. Porque, de fato, não há mesmo interesse em resolver o problema da saúde, tanto aqui na capital quanto no país inteiro. Um viaduto ou um estádio de futebol, metrôs e estacionamentos são mais visíveis e, talvez, na mentalidade do poder estatuído, sejam politicamente muito mais importantes do que remédios e hospitais.