Brasil busca autossuficiência em remédios derivados de sangue

Depois da inauguração, anteontem, da primeira etapa da fábrica de medicamentos da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) no município de Goiana (PE), o ministro da saúde, Alexandre Padilha, esteve em São Paulo para acertar uma parceria com o Ins- tituto Butantan, órgão da Secretaria da saúde do Estado, com resultado semelhante. As duas fábricas — da Hemobrás e do Butantan — fazem parte da decisão estratégica de tornar o Brasil autossuficiente na produção de remédios feitos a partir de plasma sanguíneo. Há mais de dez anos que o governo fazia planos para construção dessas fábricas, com o objetivo de substituir as importações de hemoderivados, proteínas obtidas a partir do plasma, utilizadas no tratamento d e doenças como a hemofilia A e B e como matéria-prima na produção de vacinas e em cirurgias mais complexas. O motivo é óbvio: o SUS gasta por ano R$ 2,5 bilhões para f ornecer esses medicamentos para cerca de 15 mil portadores de doenças.

“Este ano, conseguimos reduzir o valor ao mudar a forma de compra, renegociando os contratos e estendendo o acordo de fornecimento, o que trouxe uma economia de R$ 400 milhões, resultando na ampliação do atendimento”, diz Padilha. “Mas a ideia é zerar o gasto a partir de 2017 ou 2018, quando os dois projetos estiverem funcionando plenamente e até exportar o excedente.” O ministro lembrou que só quinze países no mundo têm tecnologia para produzir hemoderivados. A previsão é que o plasma coletado nos hemocentros do país comece a ser estocado na câmara fria recém-inaugurada da Hemobrás a partir de julho. Até 2014, esse material será remetido ao Laboratório Francês de Biotecnologia (LFB), na França, on-de será transformado em hemoderivados que retornarão ao Brasil para serem distribuídos pelo Sistema Único de saúde (SUS). O LFB é parceiro da Hemobrás na transferência de tecnologia de fracionamento do plasma para a futura produção nacional de hemoderivados de Goiana. O investimento do governo federal nessa fase do empreendimento, que englobou apenas a câmara fria, foi de R$ 27,4 milhões. A segunda etapa está em andamento, com investimento previsto de R$ 269 milhões.

Sem concorrência

A fábrica paulista, que também já está em andamento, tem uma proporção menor, mas é considerada mais inovadora. Com investimento total de R$ 195 milhões, recebeu com a assinatura do acordo, aporte de R$ 20 milhões do governo federal, estendido também a outras atividades do Butantan, como a produção de vacinas contra influenza, e pesquisas para obter um imunizante contra a dengue. Outros R$ 20 milhões foram obtidos da Secretaria de Estado da saúde. “A fábrica possui tecnologia de ponta e o desenvolvimento previsto no acordo permitirá avanços significativos no setor”, avalia Jorge Kalil, diretor do Instituto Butantan. O secretário de saúde de São Paulo, Giovanni Guido Cerri, fez questão de enfatizar que não se trata de um projeto concorrente. “São Paulo une forças com o governo federal para levar o Brasil
a ser autossuficiente na produção de imunobiológicos essenciais”, afirmou. “São dois projetos independentes, mas complementares.” A mesma ênfase foi dada pelo presidente da Hemobrás, Rômulo Maciel. “A parceria que aqui se inicia vai contribuir para a construção da autossuficiência nacional”, disse.

Brasil Econômico