Próteses põem Brasil em alerta
Silicone ameaça 25 mil brasileiras
Correio Braziliense – 24/12/2011
Anvisa seguiu o exemplo francês e recomendou que as 25 mil mulheres com implantes PIP procurem orientação médica
França recomenda às mulheres daquele país que utilizaram implantes da extinta marca PIP a retirar as próteses. Anvisa pede aos médicos do Brasil que avisem as pacientes com o mesmo produto
As 25 mil brasileiras que têm a prótese mamária fabricada pela extinta Poly Implant Prothèse (PIP), fábrica francesa acusada de fazer as peças com silicone usado para outros fins, deverão procurar seus médicos e fazer uma avaliação clínica. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que também determinou aos profissionais de saúde que procurem suas pacientes nessa situação, tomou a decisão ontem, depois que o governo da França recomendou às 30 mil usuárias do implante que os retirem. Embora não haja provas que comprovem risco de câncer associado à utilização da prótese, ressaltaram as autoridades francesas, episódios frequentes de ruptura e posterior reação alérgica nas mulheres preocupam. No Brasil, a Anvisa não descarta um alerta tão drástico. Em nota, informou que as ações podem sofrer alteração, de acordo com a “obtenção de outras evidências”.
O meio médico também está dividido em relação à atitude mais segura que as mulheres devem tomar. Parte defende a manutenção da orientação dada em abril de 2010, quando o Brasil proibiu a comercialização da prótese mamária PIP. “Naquela época, já havíamos recomendado que as mulheres redobrassem a atenção e, em vez de esperar os 10 anos para a consulta de avaliação, fizessem isso mais cedo e com mais periodicidade. É isso que, agora, continuamos defendendo”, afirma José Horácio Aboudib, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Segundo ele, não há razão para uma corrida às salas de cirurgia. “Ainda não sabemos se novos fatos ou evidências em relação aos riscos causados por esses implantes foram levantados pelas autoridades francesas. O que sabemos é que, ainda em 2010, foi descartado risco de câncer.”
Também membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Marcelo Moreira ressalta que é importante seguir a determinação da Anvisa, porém, não descarta a retirada preventiva. “Não falo pela SBCP, mas acredito que é preciso aguardar mais informações da França e das autoridades brasileiras. Se lá o governo está determinando, seria importante verificar as razões”, diz o médico. O cirurgião plástico Rodolfo Luis Korte, mestre em cirurgia e professor universitário, é mais enfático. “Eu indicaria a retirada imediata de quem tem essa prótese. É importante também reconhecer quem ainda está colocando essa prótese”, diz o especialista. O médico ressalta que muitas pacientes eram atraídas pelo preço, abaixo do mercado, das peças da marca PIP. Enquanto a média do par é de R$ 1,8 mil, a marca francesa ficava em torno de R$ 1 mil.
No mundo
O Reino Unido, onde 42 mil mulheres têm o implante PIP, discordou da decisão da França. A ausência de provas da toxicidade e de risco tão elevado de ruptura, de acordo com as autoridades britânicas, não sustenta uma recomendação para remoção das próteses. Cerca de 250 mulheres do Reino Unido entraram com um processo depois que ao menos metade delas passou por problemas com as próteses de mama fabricadas pela PIP. Mas foi no início de 2010, quando o caso de oito mulheres que usavam o implante tiveram câncer, que as fraudes na produção das peças vieram à tona. Em vez de um gel apropriado, peças saíam da fábrica francesa com material industrial, com alto poder inflamatório quando vaza. Problemas de rompimento do implante também foram identificados. Apesar disso, o risco de câncer ficou afastado por uma reunião de especialistas que se debruçaram sobre o assunto.
A Anvisa afirma não ter registrado qualquer problema de ruptura ou outro evento adverso desde 2005, quando a empresa PIP foi autorizada a vender para o mercado brasileiro, até a proibição, em 2010. Porém, recomendou ontem aos profissionais de saúde que façam uma notificação caso algum problema seja identificado entre mulheres que adquiriram o implante francês. Extrações do produto também deverão ser comunicadas à autoridade sanitária. No Brasil, conforme estimativas da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, cerca de 100 mil próteses de silicone são implantadas por ano. O número de marcas disponíveis gira em torno de 15, de acordo com José Horácio. O problema mais frequente, de acordo com ele, é a chamada rejeição, que acomete entre 4% e 5% das pacientes. “É quando o implante fica rígido, dando aquele aspecto duro no peito. Aí basta retirar e colocar de novo”, explica.
Interpol pede prisão de francês
A Interpol emitiu um alerta vermelho pedindo aos países-membros a prisão de Jean-Claude Mas, 72 anos, fundador da empresa que, até 2010, fabricava os implantes mamários PIP. Ele é procurado na Costa Rica por “ameaças à vida e à saúde”, segundo a Interpol. Os alertas vermelhos da polícia internacional são emitidos para pedir a prisão provisória de pessoas procuradas, com o objetivo de extradição, e se baseiam em uma ordem de prisão ou resolução judicial.
Eu indicaria a retirada imediata de quem tem essa prótese”
Rodolfo Luis Korte, cirurgião plástico, mestre em cirurgia e professor universitário