Estudo constata alta incidência de câncer na região

Valor Econômico – 15/03/2012

“As fontes fixas de poluição estão identificadas, monitoradas e controladas. Mas as fontes móveis, que se tornaram fixas em função dos congestionamentos, prejudicam sobremaneira a qualidade do ar de Cubatão”, diz Benito Gonzalez, secretário de Meio Ambiente de Cubatão. Segundo a Cetesb, não há como aferir o que vem da indústria e o que é oriundo dos veículos. A conclusão de que a poluição veicular tem aumentado vem da prática e dos indícios, diz a agência.

Não existe relação que indique qual tipo de poluição é pior para a saúde humana. “A maior parte dos compostos tóxicos presentes na emissão de uma indústria está na emissão de um veículo desregulado”, diz o pesquisador Paulo Saldiva, coordenador do laboratório de poluição atmosférica da USP e um dos maiores estudiosos da correlação entre poluição e pobreza. “Só tem sujeira onde tem pobreza. Isso é causado por um fenômeno que chamo de racismo ambiental: você leva para lugares que precisam elevar renda processos tecnológicos menos eficientes.”

Assim, cria-se a assimetria de “cidade rica, povo pobre”, diz a prefeita Marcia Rosa. O valor adicionado de Cubatão em 2010, último divulgado pela Fazenda do Estado, foi de R$ 9,6 bilhões ou 43,75% do total da Baixada Santista. Segundo o IBGE, o último PIB per capita da cidade (2009) foi de R$ 44,6 mil, ante média de R$ 24 mil na Baixada e de R$ 26,2 mil no Estado. Apesar disso, 40% dos moradores vivem em favelas – índice que já foi maior no passado.

A previsão, segundo a prefeitura, é transferir 15 mil famílias dos bolsões ocupados irregularmente, acabando com o problema até 2015, caso não haja atrasos nas licenças ambientais. Programas das três esferas de governo totalizam R$ 1,5 bilhão para deslocar as famílias das áreas que cresceram desordenadamente, como a Vila Esperança, a Vila dos Pescadores e os bairros-cota, na Serra do Mar.

Para Saldiva, contudo, não há incompatibilidade entre desenvolvimento econômico e diminuição da poluição. “A Europa não é um lugar desindustrializado, só que lá as empresas são submetidas a controles maiores.”

O médico Alfésio Braga diz ser inegável que a poluição caiu em relação aos níveis de 1983. Mas, sustenta, não se pode dizer que hoje inexiste em Cubatão problema de poluição do ar. “Esse é o discurso da Cetesb e do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Cubatão. A ponto de quererem transformar a cidade em uma estância hidromineral”, diz Braga, pesquisador do Núcleo de Estudos em Epidemiologia Ambiental da Faculdade de Medicina da USP e do Programa de Avaliação de Exposição e Risco Ambiental da Universidade Católica de Santos.

Recentemente ele coordenou o um estudo que associou fatores de riscos a doenças encontradas em cinco áreas analisadas. O resultado aponta que os coeficientes de mortalidade por câncer de mama, em Cubatão e Vicente de Carvalho, no Guarujá, e de leucemia, são superiores ao do Estado.

Foram ouvidas 15 mil pessoas. A presença de poluentes foi detectada por meio de dosagem em cabelo, sangue, poeira domiciliar, ovos da região e amostras de água que as pessoas bebiam em casa.

O gerente da Cetesb em Cubatão, Marcos Cipriano, diz que “não se tem dado efetivo nem de qualidade das águas, nem de sedimentos, e sim entrevistas a antigos moradores”.