Há responsabilidade de responder ao mundo

O Globo – 05/06/2012

Diretor-executivo do Pnuma aposta na pressão popular para mudar o rumo do “rascunho zero” da conferência do Rio

O GLOBO: Neste fim de semana houve a última rodada de negociações do “rascunho zero” , em Nova York. O que o senhor achou do resultado?

ACHIM STEINER : Os governos enfrentaram na última semana, em Nova York, o fato de que eles estavam correndo contra o tempo. Houve algumas discussões bem claras, não apenas nas salas de conferência, mas algumas discussões paralelas, sobre quais são as áreas em potencial da Rio+20. Deste ponto de vista, a última semana foi útil. O documento é ainda um reflexo do desejo de trazer o mundo para um propósito comum. Mas isso pode mudar, documentos são apenas documentos. Cúpulas são apenas cúpulas. E há tantos líderes políticos vindo, que minha esperança é que, no último momento, a responsabilidade de responder ao mundo de forma uníssona e de maneira significativa, dirija a cúpula para um resultado confiável.

Então ainda acha que o documento não é ambicioso?

STEINER: É a minha opinião, mas o mundo está olhando para este documento e está fazendo a pergunta certa: há o suficiente neste documento para fazer a cúpula responder às necessidades do nosso tempo? Claramente ainda há muitos colchetes e poucas metas. O documento tem o potencial de ser ambicioso, mas neste estágio, ele continua um documento de conversas em vez de um documento de resultados.

Uma das questões centrais das discussões é o futuro do Pnuma. Há a possibilidade de fortalecer o órgão ou até a criação de uma nova agência ambiental. Como o senhor avalia este tema?

STEINER: Como diretor-executivo do Pnuma, estou encantado que, depois de 40 anos da criação do órgão, estados-membros estão discutindo seriamente o fortalecimento deste programa. Esta discussão reflete o compromisso de vários países de que temos que fazer mais com a arquitetura internacional. Se ministros do meio ambiente de todos os países quiserem ter um impacto mais efetivo sobre o futuro e sobre nossas sociedades, então eles também têm que nos dar mais força de mandado. Não sei qual será o resultado das discussões, mas aqui estamos, apenas há alguns dias da Rio+20 e a discussão sobre governança ambiental está no cerne da cúpula. Isto é muito bom.

Mas o senhor já viu o documento após a última rodada? Viu como está descrita a questão do Pnuma nele?

STEINER: Há duas ou três opções, que ainda estão sendo discutidas. Os países ainda estão barganhando, e o resultado sobre esta questão do Pnuma depende do resultado em outras áreas. Mas para mim, o que parece muito claro é que temos pelo menos uma centena de países que tornaram esta discussão a central da Rio+20.

E o que mais o senhor considera como prioridade de resultados da Rio+20?

STEINER: Você não ficaria surpresa se eu dissesse que a discussão sobre a economia verde é extremamente importante.

E também polêmica…

STEINER: Eu sei que há alguns que estão preocupados com a economia verde, entendendo-a como uma coação a países em desenvolvimento; há outros que estão preocupados que a economia verde será dominada por multinacionais. Nós temos que falar sobre um novo paradigma econômico. E na sociedade civil, alguns gostariam que os novos paradigmas simplesmente chegassem amanhã. O que dizemos nas Nações Unidas é que temos que ter um processo de transição e que cada país teria um caminho diferente.

O que o senhor responderia aos céticos da economia verde?

STEINER: Me mostre o que hoje pode ser oferecido às pessoas que estão imaginando como poderão se alimentar, como vão sobreviver em um planeta com aquecimento global. Nós temos que fazer esta transição. E se há dúvida sobre isso, eu sempre respeito o ceticismo, eles não são ignorantes. Estamos aqui no Green Nation Fest e olhe em volta: milhares de pessoas estão vindo aqui para aprender sobre soluções para o planeta. Estou particularmente feliz esta manhã (ontem) porque vejo tantas pessoas jovens, que intuitivamente entendem questões sobre meio ambiente.

O que o senhor pode adiantar do lançamento do Panorama Ambiental Global 5 (GEO-5) no Rio?

STEINER: O GEO-5 é o mais novo relatório sobre meio ambiente, produzido pelas Nações Unidas sobre o estado do planeta neste momento da conferência. É também uma análise das principais metas sobre sustentabilidade dos últimos 20 anos, o que foi feito para implementá-las, quais são as lições. E terceiro, também apresentamos cem exemplos de diferentes regiões do mundo de como a política pública transformou o setor ou tornou um problema em oportunidade. A economia verde como parte da resposta para muitos dos dilemas que descrevemos no relatório.