Agronegócio teme custo da sustentabilidade
Valor Econômico – 19/06/2012
Frequentemente apontado como um dos vilões da preservação do ambiente no país, o agronegócio brasileiro oscila em posição delicada nos debates paralelos à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Por um lado, o setor defende, por meio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a criação de um indicador de desenvolvimento sustentável, que possa mensurar o impacto ambiental das atividades econômicas no campo, e a adoção de um conceito global para Áreas de Preservação Permanente (APPs). Mas, ao mesmo tempo em que admitem necessidade de preservação, os produtores não querem arcar sozinhos com os custos de preservação ambiental.
Ainda em fase de elaboração, o novo indicador deve funcionar aos moldes do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) criado pelas Nações Unidas (ONU), com quatro variáveis: sociais, demográficas, econômicas e de meio ambiente. Além do novo indicador, a proposta da CNA é a adoção do conceito de Área de Preservação Permanente (APP) em escala global.
Mas essas estratégias para preservação operam em um ambiente onde as exigências ao meio ambiente tornam-se cada vez maiores. O ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, abriu os trabalhos do 4º Agriculture & Rural Development Day, evento paralelo à Conferência Rio+20, com números de alerta. Cálculos do ministério estimam que, para atender à população mundial em 2050, a produção global de cereais tem que subir dos atuais dois bilhões de toneladas para três bilhões de toneladas. Já a produção mundial de carne teria que crescer dos atuais 200 milhões para 470 milhões de toneladas.
O governo brasileiro ainda defende a ideia de aumento de produtividade para produzir agricultura sustentável. “A Embrapa tem feito um trabalho muito forte de pesquisa, e possibilitando projetos que permitem, com a mesma área plantada, que a produção aumente, tanto de grãos quanto de carne”, afirmou o ministro.
Mas essa estratégia é vista com reservas pelo chefe da Divisão Técnica do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS) João Augusto Telles. Produtor de soja e de milho no Rio Grande do Sul, Telles argumentou que, para ganhos de produtividade e ações de preservação ambiental, é preciso investir em tecnologia no campo. E, para isso, é preciso dinheiro. “Nós, como produtores, não podemos arcar sozinhos com os custos da proteção ambiental”, disse. Para ele, não está muito claro de onde viriam recursos para ações de proteção do ambiente, para os próximos anos.
O pecuarista José Amado, produtor do Mato Grosso do Sul foi além. Também no Pavilhão Brasil, criticou duramente as atuais regras ambientais, principalmente a chamada Reserva Legal, que estipula percentual de área a ser conservada na propriedade rural com vegetação nativa. “Eu tenho 20% de minha área conservada como reserva legal por esta lei. Mas sou quem arca com os custos de manutenção desta área”, reclamou. Amado admitiu que, atualmente, o mundo já vive sob a ameaça de esgotamento de vários recursos naturais, e que é preciso resolver esse problema. Porém, em sua avaliação, agricultores e pecuaristas ainda arcam com a maior fatia do ônus das ações que envolvem o desenvolvimento sustentável.