Problemas de SP: Saúde 26%

Folha de SP – 1/7/2012

Datafolha revela os 11 principais problemas da cidade para eleitores: Um em cada cinco paulistanos é hipertenso, 30% têm algum transtorno mental e a cidade ainda contabiliza grande número de vítimas da violência e do trânsito. Diante desse perfil variado, a capital, com mais de 11 milhões de habitantes, tem má distribuição de leitos, demora para realizar exames básicos e chega a ter 10% de suas internações preenchidas por pessoas de outros municípios.

“O atendimento é de inclusão universal, mas o investimento é muito modesto para prover de vacina a transplante. Tem de destinar mais recursos”, avalia Oswaldo Tanaka, da Faculdade de Saúde Pública da USP.

O Programa Saúde da Família e as unidades básicas prestam o atendimento primário: monitoramentos, visitas domiciliares e consultas gerais. Casos considerados de menor gravidade são encaminhados às unidades da AMA (Assistência Médica Ambulatorial), criadas para “desafogar” os prontos-socorros e os hospitais.

Falta articular o sistema, segundo o sanitarista Mário Scheffer, do Cebes (Centro Brasileiro de Estudos de Saúde). “Os serviços sequer se comunicam. Às vezes, uma AMA resolve, mas deixa de comunicar à equipe da Saúde da Família”, afirma.

Scheffer calcula que 80% das queixas na cidade poderiam ser resolvidas na atenção primária. “Mas, como o sistema é desorganizado, as pessoas lotam o pronto-socorro, que tem fama de eficiência”, afirma. Para ele, o ideal seria fixar padrões de tempo máximo de espera. “Poderiam aplicar mecanismos para cumprir isso, com premiações ou com sanções.”

“Incorporaram bastante gente, mas faltou investir na média complexidade, como serviços de dermatologia e oftalmologia”, afirma Tanaka. Três hospitais prometidos na campanha de 2008 ainda não foram entregues.

“É necessário municipalizar alguns hospitais estaduais”, diz o sanitarista Paulo Puccini, que fez um levantamento sobre a carência de leitos públicos na cidade e apontou que a concentração deles nas regiões central e oeste chegava a ser maior do que o dobro do registrado nas outras áreas.

“Com duas gestões diferentes acaba havendo atropelo na prestação dos mesmos serviços”, diz Puccini.

“Tem que radicalizar a terceirização pelas organizações sociais”, propõe Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Saúde Pública da USP. Essas entidades filantrópicas, criadas por instituições como Sírio-Libanês e Santa Casa, gerenciam 237 das 957 unidades municipais. As parcerias flexibilizaram a contratação de médicos terceirizados para o setor público, mas a sua implantação não é consenso.

“Algumas dessas organizações são tradicionais, mas outras são obscuras”, afirma Scheffer. “Elas não se integram umas com as outras e criam uma batalha salarial pelos mesmos servidores.”

O que fazer: Integrar a rede

ENTREVISTA
Januário Montone, secretário municipal da Saúde

‘Teremos três hospitais até dezembro’

Secretário reconhece que gestão em saúde precisa ser integrada

Por que saúde aparece como o principal problema da cidade?
Januário Montone – É um desafio entender. Sempre tem diferença de avaliações entre quem é usuário do SUS e quem não é. Normalmente, a pior avaliação é de quem não usa, de quem viu no noticiário.

Como o senhor avalia a saúde hoje?
Quando começamos, o plano era aumentar o acesso, porque havia poucas portas de entrada ao SUS, e reduzir a desigualdade -havia regiões que não tinham nada. A rede de AMAs foi uma inovação desta gestão. Só elas produziram 10,2 milhões de consultas médicas. A gestão em saúde não é integrada.
As esferas do município, do Estado e a federal não se comunicam. É um problema que precisamos resolver.

Três hospitais foram prometidos durante a campanha eleitoral.
Eles vão sair. A gestão termina no dia 31 de dezembro. O compromisso continua sendo de três hospitais, um na zona leste, um na zona norte e um na zona sul. Localizamos três imóveis que já haviam sido hospitais, clínicas ou que tinham estrutura para isso. Estamos desapropriando e vamos reformá-los. É muito mais rápido do que iniciar a obra.

Como impedir que as organizações sociais definam o que é a prioridade nos locais que gerenciam?
Elas estão gerenciando o que nós definimos. Não existe a possibilidade de a OS definir “aqui eu não atendo mais isso”. Se ela não atende, eu mudo. Não é um contrato com direitos assegurados.

Em 2010, o Tribunal de Contas apontou demoras para realizar exames.
Eles pegaram dados antigos. Quando iniciamos a informatização pelo cartão SUS, vimos que havia mais ou menos três vezes mais cartões que a população usuária. Havia casos de pessoas que tinham o exame marcado em uma unidade, mas fizeram em outra.