Prevenção para melhorar a Saúde

O Globo – 18/05/2012

Os dados de uma pesquisa do Conselho Regional de Medicina do Rio, mostrando déficits de equipamentos, de pessoal e de leitos em emergências e enfermarias dos maiores hospitais públicos do Rio, são sintomas significativos de que o sistema de Saúde à disposição da população carioca permanece aquém das demandas. Os números não deixam dúvidas quanto à existência de um grande contencioso, não obstante a inegável adoção de ações do poder público para reduzir crônicas pendências no setor. Os indicadores reforçam, principalmente, a tese de que a medicina preventiva deve ser o princípio de um programa de ação para aperfeiçoar os serviços prestados à população.

O Rio tem procurado adequar seus programas de ação a este pressuposto. Na capital, principalmente, o secretário Hans Dohmann, adepto confesso da prevenção como método de melhora dos indicadores gerais da Saúde, executa no município os projetos Clínicas da Família e Saúde da Família.

O primeiro é semelhante ao programa Médico da Família, de Niterói. Baseado na prevenção e com um banco de antecedentes médicos dos pacientes, é responsável pela melhora de indicadores de crônicas demandas do município (por exemplo, o registro de que nos últimos anos não houve ali um único óbito de criança resultante de doença evitável). Também ajudou a criar barreiras contra epidemias, de tal forma que os constantes surtos de dengue na Região Metropolitana fluminense quase não deixam rastros na cidade. Já com o Saúde da Família, o Rio mira o ambicioso horizonte de levar atendimento médico permanente a pelo menos 50% da população.

São ações de uma aposta na óbvia opção de que evitar doenças é o mais eficaz dos remédios. Este deve ser o fundamento de um projeto global para melhorar os serviços do setor. Há, sem dúvida, elementos importantes captados na pesquisa do Cremerj. Não se pode fechar os olhos para a falta de monitores de sinais vitais e de desfibriladores nas emergências, pois isso implica risco para a vida dos pacientes. Também é inaceitável o déficit de investimentos em leitos de retaguarda nas enfermarias (compromete a capacidade de atendimento de urgência), em estrutura e em pessoal. São dados de uma realidade que, apesar de inegáveis avanços, ainda está aquém das necessidades da população.

Mas, por si só, não basta reequipar hospitais, investir em estrutura, melhorar salários e aumentar o quadro de pessoal sem a adoção de um programa que vise a, se não eliminar, ao menos reduzir a níveis administráveis as causas da sobrecarga e do mau funcionamento de órgãos de saúde. Equivaleria a fazer rodar um computador de última geração com um software anacrônico.

O levantamento do Conselho de Medicina capta sinais claros de melhoras na estrutura física da rede – como a redução das demandas nos hospitais em razão da descentralização dos serviços decorrente da criação das UPAs. Salários e pessoal são temas de foros pontuais. O investimento de fundo, que se sobrepõe a pendências tópicas, é a opção por uma medicina preventiva, um caminho a ser mais explorado para mudanças radicais da Saúde.