Sem opção

O Globo – 1/11/12

Em recente estudo do Comitê de Saúde da Associação Comercial do Rio de Janeiro, nos deparamos com uma tríade de queixas do cidadão usuário dos serviços de saúde, quer públicos quer privados, em igual dimensão nos itens acesso, burocracia e tempo de espera. Como ainda existe uma grande dificuldade para o usuário não técnico avaliar a qualidade do atendimento, fica a impressão de que não existe diferenciação entre o público e o privado.

Nas últimas duas décadas, o setor privado de saúde apresentou uma maior expansão em sua estrutura e nos serviços prestados à população. Com crescimento médio anual de 4%, o setor atingiu, no primeiro trimestre de 2012, a marca de 47,9 milhões beneficiários, de acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Este cenário teoricamente favorável, no entanto, tem causado alguns questionamentos sobre situações críticas relativas ao atendimento de grande parte dos usuários. Com a expansão da base de associados, vários planos de saúde passaram a ser comercializados com valores possivelmente abaixo do mínimo necessário para garantir atendimento adequado. A verdade é que possuir um plano de saúde hoje não é garantia de atendimento adequado na rede de prestadores disponíveis, especialmente das grandes cidades.

O Estado precisa repensar o tratamento dispensado à saúde. O baixo financiamento do setor público de saúde é um dos fatores culminantes para os transtornos vividos atualmente. O Brasil representa uma das dez maiores economias do mundo, porém, o setor privado é responsável por 53% dos investimentos em saúde. Ou seja, a saúde privada, que deveria ser complementar, acaba absorvendo a ineficiência do setor público que, por sua vez, deveria prover atenção básica de qualidade para a população.

Nos países desenvolvidos, por exemplo, a participação do setor público nas despesas com saúde representa, em média, 72,3% dos gastos e a despesa per capita em saúde é de, aproximadamente, US$ 3.325, ante US$ 782 no Brasil, de acordo com dados recentes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Entendemos que a necessidade de investimentos robustos na saúde pública, bem como a gestão mais eficiente do setor, são indiscutíveis. Precisamos, mais do que nunca, unir esforços entre os sistemas público e privado para encontrar soluções para a saúde brasileira. Diferentemente do que muitos pensam, o atendimento deficitário do sistema público não é positivo para o sistema privado.

Ao contrário, provoca o desequilíbrio na demanda por serviços de saúde, ocasionando déficit de qualidade.

O atendimento à saúde pública de qualidade é um direito do cidadão. O sistema privado de saúde também deve resgatar a sua condição existencial, preocupando-se assim com as questões relacionadas à gestão e inovações tecnológicas, e voltar a ser uma opção do usuário, e não uma condição para receber os cuidados de saúde que deveriam ser ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A verdade é que, hoje no Brasil, o fato de possuir um plano de saúde não significa uma garantia de que a pessoa terá atendimento adequado

Francisco Balestrin é médico e presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados