Meta de inflação prejudica países pobres
Estabelecer metas de inflação, prática usada por diversas nações (inclusive o Brasil), pode ser prejudicial para economias vulneráveis a choques externos, especialmente as dos países da África Subsaariana, afirma um estudo do Centro de Internacional de Pobreza, uma instituição de pesquisa do PNUD, resultado de uma parceria com o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
No artigo Traçar Metas de Inflação para a África Subsaariana: Por que fazer agora? Por que fazer?, o economista Terry McKinley conclui que estabelecer metas de inflação pode ser uma política extremamente danosa a países pobres, especialmente no momento atual, em que a economia mundial “flutua à beira de uma desaceleração”.
O autor usa como exemplo Gana, país africano que, em maio de 2007, adotou um regime de metas de inflação como base da sua política monetária. A partir de então, a estabilidade de preços tornou-se o objetivo oficial do Banco Central do país. Entre as medidas tomadas para conter a inflação estiveram alta de juros e adoção de uma taxa de câmbio flexível – medidas também adotadas pelo Brasil. Mas o BC de Gana não conseguiu manter os preços dentro da meta.
McKinley, diretor do Centro para Pesquisa e Políticas de Desenvolvimento, em Londres, mostra que o Banco Central do país africano subiu a taxa básica de juros de 12,5% para 13,5%, em novembro de 2007, e para 14,25%, em março deste ano. O aperto monetário, porém, não surtiu o efeito esperado: desde outubro de 2007, a inflação está um terço maior do que antes, em 13,2%, bem longe da meta estipulada, de 5%.
O autor observa que o mesmo ocorreu na maior economia da região, a África do Sul, que também adotou o regime de metas de inflação. Só em janeiro, o preço dos alimentos subiu 14%, impulsionado pelo encarecimento dos gêneros alimentícios importados. A inflação anual chegou perto dos 9%, ultrapassou a meta (que era de 3% a 6% ao ano) e já é a maior desde 2003.
A alta de preços na África Subsaariana é um problema ligado à importação, à inflação internacional, sustenta o economista. O artigo defende que as autoridades monetárias não podem agir no controle da inflação como se houvesse um excesso de consumo interno, sob a pena de enfraquecer a economia. Além disso, afirma, a elevação recente dos preços externos — e outras esperadas para breve — pode desvalorizar as taxas de câmbio, intensificando pressões inflacionárias.
Mckinley argumenta que a alta dos preços nos alimentos já está abalando o poder de consumo em Gana. Esse fator, junto com o aumento na cotação do petróleo, pode fazer o crescimento econômico frear e a inflação decolar. Além disso, uma recessão nos Estados Unidos pode, direta ou indiretamente, deter o crescimento das exportações gananses, aprofundando o déficit comercial. Quadro semelhante tem chances de ocorrer em “muitos países da região”, diz o economista.
Gerenciar taxas de câmbio e não amarrar a política econômica a um regime de metas de inflação, para o autor, é essencial para responder a esse cenário de “turbilhão iminente”. O economista sugere estabilizar a taxa real de câmbio (para conseguir controlar melhor as pressões externas) e liberar políticas fiscais para apoiar o investimento interno e o consumo (o oposto do que tem sido feito com a elevação de taxas de juros), tendo em vista que os choques externos vão certamente piorar balanças comerciais e os projetos de crescimento.
Fonte: PNUD Brasil