Falhas afetam estoque de vacinas e soros
André de Souza/ O Globo
Problemas na distribuição do Ministério da Saúde levam a racionamento de medicamentos nos estados
O Brasil passou este ano por problemas na distribuição de sete tipos de vacina e nove soros. Segundo comunicado da Coordenação-Geral do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde enviado em fevereiro as secretarias estaduais de saúde, as razões vão de atrasos na importação até uma nova regra da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que exigiu uma readequação dos laboratórios. As falhas afetaram os estoques de alguns desses produtos. Parte deles ainda está falta, conforme informaram 11 secretarias estaduais e duas municipais. O problema na distribuição de vacinas e soros foi noticiado na edição de terça-feira do GLOBO pelo colunista José Casado. Apesar dos problemas, o Ministério da Saúde nega que haja racionamento de vacinas.
Enquanto não ocorre a regularização da produção e distribuição, alguns soros e vacinas seguem em falta. É o caso do soro antielapídico, contra o veneno da cobra coral. As secretarias de Saúde do Distrito Federal, do Paraná, de Pernambuco e do Maranhão, por exemplo, informaram que os estoques estão zerados. O soro antitetânico está esgotado em Pernambuco, Paraná, e Maranhão. lá o soro antirrábico humano, usado contra a raiva, está com o estoque reduzido no DF, no Paraná e em Pernambuco.
Entre as vacinas afetadas, estão a BCG, contra tuberculose; a tríplice a celular (DTPa), contra tétano, difteria e coqueluche; e a dupla adulto, contra tétano e difteria. No caso da BCG, o estoque está reduzido no DF, em Minas Gerais, no Paraná e em Pernambuco. Nos três últimos estados, e também no Maranhão, está em baixa o estoque da dupla adulto. Já a DTPa está com o estoque comprometido em Minas e zerado no DF, no Paraná, em Pernambuco e no Maranhão. O Paraná informou que há uma possibilidade de chegar, na primeira quinzena de maio, uma pequena quantidade da DTPa.
Ao todo, Pernambuco está com estoque zerado de três soros e duas vacinas. O DF não tem três soros e uma vacina. O Paraná, por sua vez, também não dispõe de três vacinas e oito soros, e o Maranhão não tem nenhum exemplar de uma vacina e oito soros. Também foram reduzidos os estoques de seis vacinas e três soros em Minas Gerais, de uma vacina e um soro no DF, e de cinco vacinas e um soro em Pernambuco, de quatro vacinas e um soro no Paraná, e de uma vacina no Maranhão.
A Secretaria de Saúde de Mato Grosso também informou que vem recebendo, há alguns meses, menos vacinas do que o ideal. A distribuição não foi afetada até o momento, devido ao estoque do estado, mas em maio haverá falta de alguns produtos, como as vacinas dupla adulto, tríplice viral e BCG, e os soros antitetânico, antielapídico e anticrotálico.
No Rio, as secretarias municipal e estadual de Saúde disseram que, por não estar com os estoques de vacinas totalmente regularizados, tem feito remanejamento entre as unidades de saúde para que não falte imunização em nenhuma delas. As duas pastas dizem que essas medida tem evitado o desabastecimento.
Outros três estados Ceará, Goiás e Alagoas também confirmaram que tiveram os repasses de vacinas e soros diminuídos em 2014, mas sem detalhar o que foi afetado.
A prefeitura de Palmas, no Tocantins, também enfrenta problemas. Atualmente, não há disponibilidade da vacina contra a poliomielite em todas as Unidades de Saúde da Família. O estoque da BCG está reduzido, sendo distribuído apenas em algumas unidades. A informação foi dada pela Central Municipal de Vacinação da Secretaria de Saúde de Palmas. “Houve, desde 2013, dificuldade na obtenção das vacinas Tríplice Viral, BCG, Hepatite B, DTP A celular, Soro Antirábico e Pólio Oral, mas não falta continua, apenas redução ocasional” informou, em nota, a Central Municipal de Vacinação.
O Ministério da Saúde informou que distribui 43 tipos de produtos imunobiológicos, o que abrange 24 vacinas, das quais 14 estão no calendário nacional de vacinação.
MERCADO DE TRABALHO AFETADO EM RECIFE
A falta de dois tipos de soro (o antitetânico e o antiofídico) e duas vacinas (a tetraviral e a DPTA) em Pernambuco já afeta até a contração de alguns trabalhadores. Isso porque há empresas que só fecham contratos depois que os novos empregados apresentam carteira de vacinação em dia. A imunização com a DT (contra tétano e difteria) é uma das mais exigidas, mas como não há doses em quantidade suficiente, muitos candidatos a novos empregos estão voltando para casa com a carteira profissional em branco. Por esse motivo, a Secretaria Estadual de Saúde solicitou às prefeituras que entrem em entendimento com as empresas, para pedir que mantenham os contratos. As prefeituras prometem que a vacinação será realizada tão logo as vacinas cheguem.
Foi o jeito que enfrentamos de evitar o mal maior. Há pessoas que passaram cinco anos procurando emprego e não estavam conseguindo contratação. Quando o trabalho aparece, vinham perdendo a oportunidade de colocação porque não estavam com a vacinação em dia. Solicitamos aos prefeitos que conversem com as indústrias para que, pelo menos por enquanto, abram mão dessa exigência, afirmou a Coordenadora de Imunização da secretaria, Ana Catarina Belo.
No caso da a tríplice a celular (DTPa), contra tétano, difteria e coqueluche, a coordenadora de imunização diz que o estoque está zerado.
Estamos há três meses sem receber nada. O estoque zerou afirmou a Coordenadora. [Colaboraram Letícia Lins e Juliana Castro)