Municípios deixam Saúde de lado, revela estudo do IPEA

Uma pesquisa inédita do Ministério da Saúde sobre o perfil das vítimas de acidentes e violências no país aponta que os homens são os que mais geram atendimentos nas urgências e emergências do Sistema Único de Saúde (SUS). A pesquisa, realizada em 84 unidades de atendimento em 37 municípios, informa que eles são os maiores agressores e também os mais agredidos em situações que envolvem acidentes e violências.

Os dados integram o sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA). A pesquisa foi realizada com dados coletados no período de 30 dias, entre setembro e outubro de 2007.

Nesse período, do total de 5.488 notificações de pessoas vítimas de violências que procuraram as unidades de urgências e emergências, 3.896 (71%) eram homens, apontados também como os maiores agressores, com 3.670 (74%) dos registros de agressões. Entre as mulheres, foram detectadas 1.592 vítimas de acidentes e violências (29%).

Os dados coletados pelo SUS mostram o perfil das pessoas vítimas de acidentes e violências que procuram atendimento na rede pública. As informações são inéditas e mostram uma dimensão dos serviços de saúde para qual não havia, até pouco tempo, uma vigilância estruturada.

Na avaliação por tipo de violência, as agressões e maus tratos geraram 3.629 notificações, o que representou 73% do total de registros. Entre as mulheres, foram 1.317 atendimentos (27%).

Em segundo lugar, para ambos os sexos, vêm os atendimentos por tentativa de suicídio. No entanto, as mulheres são apontadas como as que mais tentam o suicídio, com 462 registros, ou 58% do total de notificações. Entre os homens, essa causa gerou 195 registros (42%).

Em terceiro, estão os atendimentos por intervenção da polícia, que geraram 80 notificações, sendo 72 entre homens (90%). Entre as mulheres, houve 8 registros (9%).

Quadro

De acordo com o Departamento de Análise de Situação de Saúde (DASIS) da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), cerca de 20% dos atendimentos nas 84 unidades sentinelas foram por causas externas (acidentes e violências), o que representa uma demanda expressiva, na avaliação dos técnicos responsáveis pelo levantamento.

O percentual de atendimentos varia de acordo com o perfil das unidades. No município do Rio de Janeiro (RJ), por exemplo, a unidade sentinela foi o Hospital Municipal Souza Aguiar. Dos 8.382 atendimentos feitos 1.532 (18%) foram por causas externas, entre elas acidentes e violências.

Em Belo Horizonte (MG), participaram os hospitais João XXIII, Municipal Odilon Behrens e o Risoleta Tolentino Neves. No período avaliado, essas três unidades de referência realizaram 17.958 atendimentos, dos quais 6.176 (34%) por causas externas.

Local de agressão

Quanto ao local de ocorrência da agressão, 2.137 (42%) ocorreram em via pública, 1.373 (33%) na residência e 707 (14%) em bares e similares. Das agressões, em 1.941 (39%) havia a suspeita de uso de álcool por parte da vítima.

O corte ou lacerações foram os tipos de lesão com maior número de registros, com 2.864 notificações (58%), seguido por contusão, com 663 (13%). Em relação à localização da lesão, a cabeça foi a parte do corpo mais atingida com 1.861 (34%) registros.

De acordo com o estudo, nas agressões, a violência física foi a mais empregada, com 4.609 registros (85%). Em seguida, está a violência psicológica, com 708 (13%), e a negligência, com 199 (4%).

Apesar de apenas 68 (1,2%) atendimentos terem sido registrados como por conseqüência de violência sexual, a maior parte dos atendimentos foram em mulheres (79%).

O meio de agressão mais utilizado foi a força física corporal, com 2.723 registros, representando 50% do total. Em seguida, estão os objetos perfuro-cortantes, com 1.369 (30%) notificações. Por ameaça, foram 889 (20%) notificações, 771 (17%) por objeto contundente e 600 (14%) registros por arma de fogo. Cada indivíduo pode ter sido vítima de mais de um meio de agressão.

Quanto ao perfil provável do autor ou autora da agressão, 1.874 (38%) eram conhecidos da vítima, 1.874 (34%) eram desconhecidos e 933 (19%) eram familiares.

Violência no trabalho

Do total de atendimentos por violências, 337 (6%) tiveram relação com o trabalho. Em 97% dos casos o tipo de violência empregada foi a violência física, e a violência psicológica foi relatada por 17% das vítimas.

Em relação à violência física relacionada ao trabalho, o meio de agressão mais utilizado foi a força física corporal – 54% das agressões. Em seguida, foram relatadas agressões por objeto perfuro-cortante (21%), ameaça (18%), arma de fogo (18%) e objeto contundente (17%). O provável autor da agressão era desconhecido em 49% dos atendimentos por violências relacionados ao trabalho.

VIVA

Esses dados inéditos integram o Sistema de Vigilância de Acidentes e Violências (VIVA), iniciado no país em 2006. O objetivo do VIVA é conhecer melhor a magnitude e gravidade deste grave problema de saúde pública, por intermédio das notificações que chegam aos serviços sentinelas para o atendimento a vítimas de acidentes e violência, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

O VIVA possui dois componentes: a vigilância contínua, que capta dados de violências doméstica, sexual e outras violências, notificados em serviços de referência; e a vigilância pontual, feita com base em informações sobre atendimentos por acidentes e violências notificados por unidades de urgência e emergência.

Em 2007, a vigilância contínua foi feita por unidades de 27 municípios. Já a vigilância contínua foi feita com base nos dados de 84 unidades em 37 municípios.

Os dados do VIVA correspondem apenas aos atendimentos de pessoas que procuraram as urgências e emergências nas cidades que contam esse serviço. Os resultados reúnem importantes informações que subsidiarão a tomada de decisão e o aprimoramento das ações de prevenção.

Para implantar o VIVA, o Ministério da Saúde repassou R$ 1,6 milhão em incentivos financeiros em 2006 e 2007 a 36 municípios, 6 estados e Distrito Federal, além de desenvolver fichas de notificação, realização de treinamentos e todo apoio técnico necessário à estrutura