Vacinas: farmacêuticas descobrem oportunidade de lucros

Até pouco tempo atrás, as vacinas não eram consideradas produtos lucrativos para as empresas do setor farmacêutico, que consideravam os imunizantes um produto complexo e que demandavam altos investimentos na produção, além de não oferecer margem de lucro satisfatória. Mesmo assim, poucos laboratórios – como a Novartis, a britânica GlaxoSmithKline, a francesa Sanofi Aventis, a Merck, de Nova Jersey e a Wyeth (comprada pela Pfizer) – apresentavam em suas linhas de pesquisa a produção e desenvolvimento de vacinas. Mas a vacina recentemente passou a ocupar posição de destaque entre as farmacêuticas devido aos desafios enfretados no setor de medicamentos com prescrição médica. Somente nos próximos cinco anos, haverá uma perda de US$ 135 bilhões com medicamentos que terão suas patentes vencidas. E de acordo com a IMS Health, não há produtos na linha de produção das empresas para repor essas perdas.

Assim, a produção de imunizantes parece ser a nova galinha dos ovos de ouro dos conglomerados farmacêuticos. A Novartis inaugurou no fim de novembro nos Estados Unidos (EUA) a maior instalação para a cultura de células em grande escala. A fábrica – que recebeu verbas federais da ordem de US$ 487 milhões – pretende substituir o atual processo de fabricação de vacinas a partir de ovos para um novo método baseado na cultura de células. A Novartis quer utilizar a tecnologia – produzida em células de rim de cão – para fabricar vacinas contra gripe sazonal e também pandêmicas. De acordo com o presidente do laboratório, Daniel Vasella, o novo processo reduz em um mês o período total necessário para produzir vacinas.

– Esta tecnologia tem o potencial para contornar o tradicional método de utilização de ovos, aumentando o grau de confiança e a produtividade da produção de vacinas.

A Novartis anuncia promessas de fabricação em larga escala, afirmando que será possível produzir 50 milhões de doses da vacina contra a gripe sazonal e 150 milhões de doses da vacina pandêmica para os Estados Unidos em seis meses após a declaração de uma pandemia. A empresa só esqueceu de avisar que, na melhor das hipóteses, somente a partir de 2011 a fábrica será capaz de começar a produzir vacinas a partir de células.

Não é preciso analisar a fundo o quão lucrativo é a produção de vacinas no mundo de hoje, principalmente após a constatação da escassez de imunizantes para o Influenza A (H1N1) e de que a distribuição dos 50 milhões de vacinas nos EUA foi suficiente para inocular apenas um terço dos 160 milhões de norte-americanos. Embora consideradas caras e de difícil produção, as vacinas são menos vulneráveis à competição dos genéricos e talvez por isso, laboratórios começam a enxergar a vacina com olhares diferenciados. O sucesso da vacina pediátrica da Wyeth contra a pneumonia é um exemplo disso: a Prevnar atualmente gera mais de US$ 3 bilhões em vendas anuais.

Analistas do setor também concordam que os imunizantes são a bola da vez. Para Micheal Boyd, diretor geral da Federação Internacional de Fabricantes e Associações de Produtos Farmacêuticos (IFPMA, na sigla em inglês), o setor de vacinas deve crescer 12% até 2012, contra o atual e lento crescimento do mercado global de medicamentos (cerca de 5% ao ano).

– Mais companhias estão investindo em vacinas como forma de diversificação, e novas tecnologias, como a cultura de células, estão possibilitando que elas produzam vacinas mais sofisticadas.

Boyd diz que basta observar as recentes aquisições no mercado farmacêutico: a Pfizer que entrou para o setor de vacinas ao comprar a Wyeth, a Abbott Laboratories que comprou a fabricante belga de vacinas Solvay, a Johnson & Johnson que adquiriu parte da fabricante holandesa de vacinas Crucell e a Glaxo SmithKline – grande beneficiada com a demanda por vacinas contra a gripe suína – que fechou recentemente um negócio de dez anos no valor de US$ 2,2 bilhões (R$ 3,8 bilhões) para fornecer a sua vacina contra pneumonia ao Brasil.

No entanto, o presidente da Novartis reconhece que o setor de vacinas é imprevisível e que há outras áreas que oferecem oportunidades maiores, como o câncer e a meningite. Analistas dizem que as duas vacinas contra a meningite produzidas pela Novartis de fato têm potencial de vendas em valores astronômicos. O laboratório tem muito a ganhar com o sucesso dessas vacinas, porque os especialistas da Sanford C. Bernstein calculam que os imunizantes e diagnósticos da companhia irão gerar em 2009 vendas de US$ 1,5 bilhão (R$ 2,6 bilhões), contra prejuízos de US$ 257 milhões (R$ 444 milhões) com outros produtos.