Temas de curto prazo, efeitos de longo prazo
Valor Econômico – 23/05/2012
A presidente Dilma Rousseff já recebeu as primeiras respostas sobre a receptividade da população à cruzada que desencadeou contra os juros altos. As informações que chegaram ao Palácio do Planalto apontam que o impacto foi positivo. A população aprova. Não há também registros de problemas decorrentes das mudanças nas regras que ditam a rentabilidade da caderneta de poupança, um tabu que não foi enfrentado pelos governos anteriores. Política e economia andam de mãos dadas, e a presidente sabe que terá de lançar mão de outras medidas econômicas para chegar a 2014, ano de reeleição, com a popularidade em alta.
É óbvio que altos níveis de aprovação dão a Dilma o cacife político necessário para que a agenda do Executivo avance, mas a presidente e seus auxiliares fazem questão de sublinhar que seus objetivos não são de curto prazo. A presidente ressalva também que sua popularidade não influenciará o processo de decisão de governo. Todas as medidas necessárias para assegurar ao país melhores condições de enfrentar os efeitos da crise financeira internacional e dar maior competitividade à indústria nacional serão tomadas. Segundo disse a interlocutores, independentemente se houver ou não “gordura para queimar”.
Com a popularidade em alta em todos os segmentos da população e nas cinco regiões do país, a presidente agora trabalha para manter o prestígio. É nesse sentido, também, que devem ser vistas as medidas de estímulo ao consumo e investimento baixadas pela presidente na segunda-feira. Elas têm o objetivo de impedir a desaceleração da economia e seus efeitos indesejáveis, como queda da oferta de emprego. Se tiver sucesso na empreitada, Dilma também manterá a percepção positiva que a sociedade tem hoje de seu governo, o que dará condições à presidente de aprofundar os ajustes estruturais do país.
Dilma já recebe retornos de que luta contra juros agrada
Outras medidas do governo têm ainda potencial para melhorar a avaliação do Executivo em algumas áreas que receberam nota inferior à de Dilma em pesquisas de avaliação do governo, como as políticas de juros, impostos e saúde. Além do seu empenho para induzir uma redução dos spreads bancários – a diferença entre o custo do dinheiro para os bancos e as taxas de juros cobradas dos tomadores de crédito-, o governo federal sinalizou que pretende reduzir a carga e simplificar o sistema tributário. Em outra frente, quer aumentar a oferta dos serviços de saúde, ampliando o número de vagas nas faculdades de medicina e facilitando a entrada de médicos estrangeiros no país.
Na pesquisa CNI/Ibope realizada em março, 77% dos entrevistados disseram apoiar a maneira de Dilma governar. Em dezembro de 2011, tal parcela da população somava 72%. O percentual de brasileiros que confiam na presidente subiu de 68% para 72% no mesmo período. No entanto, algumas áreas estratégicas da administração federal são criticadas pela população.
A política de juros do governo, por exemplo, era reprovada em março por 55% dos entrevistados. Os que aprovavam totalizavam 33%. A política de impostos do governo era condenada por 65%, ante 28% de aprovação. Já as políticas de saúde atingiram 63% de desaprovação, contra uma aceitação de 34% da população. Esse descasamento também foi visto em pesquisas de opinião em administrações anteriores. Coincidência ou não, são esses os alvos atuais da presidente.
Dilma se mantém imune ao risco de a população associar algumas políticas que critica no governo à sua pessoa. Pelo menos, até agora. O desempenho da economia no primeiro trimestre ficou abaixo do esperado pelo governo. Autoridades do Executivo já reconhecem que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012 não alcançará as projeções iniciais do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de uma alta de 4,5%.
As incertezas em relação às economias da Europa e da China também aumentam a insegurança em relação aos desdobramentos da crise financeira internacional e seus efeitos sobre o Brasil. Nesse cenário, o governo entende que sua próxima batalha será demonstrar à população que a crise global é séria. E convencer o eleitorado e os agentes econômicos que o país está preparado para enfrentá-la.
Foi frustrante rever o empresário Carlos Augusto Ramos nos bancos de uma CPI. Em 2005, Carlinhos Cachoeira depôs à CPI dos Bingos, aquela que ficou conhecida como a do “fim do mundo” por ter um escopo complacente à determinação da oposição em atacar o governo Luiz Inácio Lula da Silva pelos mais diversos flancos. Ele reiterou as acusações de que o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz tentara achacá-lo, anotou o relator da comissão, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), em seu parecer.
Cachoeira pouco falou sobre seus negócios, negou o envolvimento com irregularidades e fez uma defesa da legalização dos jogos. Mesmo assim, a CPI dos Bingos pediu seu indiciamento por formação de quadrilha, corrupção passiva, crime contra procedimento licitatório e improbidade administrativa.
Ontem, Cachoeira voltou ao Congresso para apresentar esclarecimentos à CPI mista que foi batizada com o seu nome. Manteve-se num constrangedor silêncio, seguindo a orientação da defesa.
O empresário teve sete anos para consolidar um suposto esquema ilegal de jogos de azar com conexões no setor público e na iniciativa privada, até que uma operação da Polícia Federal o levou para a cadeia. Nesse período, embora citado em diversos escândalos, pouco foi importunado. Suas pontes políticas abrangem diversos partidos e esferas do poder público. Na área privada, a construtora Delta, uma das maiores responsáveis pela execução de obras do governo federal, é a principal ligação do empresário. A trajetória de Carlinhos Cachoeira é uma demonstração de como CPIs podem se transformar em instrumentos políticos que não dão resultados práticos.