Espanha teme a piora da recessão

Correio Braziliense – 19/11/2012

Protestos diários na capital Madri mostram a percepção geral de que dificuldades devem se agravar nos próximos dois anos

Há apenas uma coisa mais preocupante para os espanhóis que a atual crise econômica: o fato de a recessão estar piorando em pouco tempo. A sensação de que o fundo do poço não chegou é percebida entre autoridades e cidadãos comuns, sempre dispostos a irem às ruas para protestar. Todos os dias a capital do país registra pelo menos uma manifestação contra as medidas de austeridade fiscal. Um integrante da cúpula do governo brasileiro disse que ministros da Espanha trabalham com a possibilidade cada vez mais real de ter a situação piorada ao longos dos próximos dois anos.

Ontem, cerca de sete mil pessoas se reuniram para protestar contra a privatização da saúde na Espanha. Parte da manifestação passou pelo Paseo de la Castellana, avenida onde está localizado o hotel da presidente Dilma Rousseff, que hoje participa de encontros com o chefe do governo Mariano Rajoy e o rei Juan Carlos. Os manifestantes cruzavam a via por volta de 13h, no momento que Dilma se preparava para sair e fazer um passeio em Toledo, a 80km de Madri. Com a multidão — que não sabia da presença de Dilma ali —, a segurança da presidente recomendou que ela saísse pelo portão dos fundos do hotel.

A enfermeira Ana, 52 anos, foi uma das profissionais da área de saúde que saíram às ruas para protestar contra privatização de seis hospitais em Madri. “É necessário ter saúde e educação pública. São áreas que deveriam ser preservadas, mesmo com a crise”, disse ela, que preferiu não revelar o sobrenome. Os manifestantes carregavam cartazes com dizeres contra políticos. Um deles tinha a frase em inglês “Políticos espanhóis não amam os espanhóis”. As medidas do governo incluem corte de salários e pensões, aumento de impostos e reformas para eliminar regras que dificultavam demissões.

Imigração
O ministro da Educação, Aloisio Mercadante, disse que a facilitação de vistos de trabalho para espanhóis não vai ter um impacto negativo no mercado de trabalho do Brasil. “Isso é residual”, disse ele, que está na comitiva de Dilma na visita à Espanha. Os governos brasileiros e espanhóis discutem hoje as formas para facilitar os vistos. Para o Brasil seria uma forma de qualificar mão de obra.

No sábado, durante a 22ª Cúpula Ibero-americana, em Cádiz, a 650km de Madri, Dilma criticou as medidas de austeridade dos países europeus e pediu a adoção de políticas de investimentos públicos e privados, além de programas sociais, para a saída da crise.

O El País publicou ontem entrevista com a presidente. Com o título “Dilma, a forte”, o jornal espanhol destacou as críticas da presidente ao pacote de medidas severas de governos europeus.

Ontem, ela visitou o museu Thyssen-Bornemisza, em Madri, onde é possível ver coleções do Renascimento ao século passado. Entre os pintores, estão Jan Van Eyck, Tiziano, Tintoretto, Bassano, El Greco, Bernini e Caravaggio.